Falta de regularização trava o crescimento de negócios liderados por mulheres negras

Falta de acesso à informação e erros na manutenção do CNPJ prejudicam o avanço dos negócios; Agência de Empoderamento Contábil ajuda mulheres negras empreedendoras

 Texto: Roberta Camargo | Edição: Lenne Ferreira

A pandemia de Covid-19 evidenciou e tornou mais profundas as dificuldades para quem empreende no Brasil. Para a população negra que tenta alavancar negócios próprios algumas limitações como a falta de acesso à educação, tecnologia e inovação são os principais empecilhos. Segundo pesquisa do Sebrae em parceira com a Fundação Getúlio Vargas, entre maio e junho de 2020, dos mais de 7 mil empreendimentos registrados, 70% dos negócios conduzidos por negros tiveram fechamento parcial ou total.

O empreendedorismo negro no Brasil, hoje, é protagonizado pelas mulheres, concentradas, principalmente, nas regiões Sudeste e Nordeste e com renda familiar de até R$5mil mensais. Os dados foram levantados por um estudo do Instituto Feira Preta, em parceria com JP Morgan e Plano CDE. Outra pesquisa, que mostra a diversidade no mercado de consumo e empreendedorismo, intitulada “A voz e a vez”, aponta que 82% dos empreendedores negros não têm CNPJ e atuma na informalidade

Avaliando esse contexto, que exige organização e educação financeira, a empreendedora Ludmila Hastenreiter, teve a ideia de criar um projeto que possibilitasse maior ascensão dos microempresários negros. É este objetivo que move a agência de consultoria Empoderamento Contábil, a primeira do ramo do Brasil, que foi criada por ela para ajudar na gestão financeira de negócios liderados por mulheres. Em três anos do projeto, mais de duas mil mulheres foram fortalecidas com conhecimento que as apoiam a transformar seus micronegócios em microempresas. A iniciativa vem ganhando cada vez mais espaço, como o convite para participar do projeto “Repercutindo Histórias”, do Grupo Globo, e de workshops com a organização da Copa América no Brasil.

Foto: Divulgação

“Eu entendo que o ano de 2020 foi de grande aprendizado para quem já se entende como empreendedor negro, mas também para quem entende a representatividade negra no nosso país. Eu tenho trabalhado nisso há mais de três anos para que o empreendedor negro tenha mais acesso a crédito, principalmente nessa fase de organizar os processos de regulamentação e de acesso pra melhorar a gestão dos negócios”, explica. Mesmo durante o período de pandemia, ou principalmente como a necessidade de criar novos negócios para gerar renda, num cenário em que o desemprego no país atinge mais de 14 milhões de pessoas, Ludmila vê uma crescente no empreendedorismo negro feminino. 

“A procura da mulher que quer saber como ter um CNPJ, como se tornar MEI (Micro Empreendedora Individual) e como emitir nota fiscal cresceu bastante desde a pandemia. Sinto que, cada vez mais, a mulher quer deixar de trabalhar com carteira assinada para conquistar uma fonte de renda sem abrir mão do contato com os filhos”, analisa Ludmila.

Se por um lado houve uma quebra de muitos negócios, por outro, o período pandêmico, segundo Ludmila, ampliou as perspectivas do empreendedorismo: “A pandemia ajudou a lançar luz sobre muitas minorias-maiorias. A gente passou a prestar atenção na empreendedora que é mãe solo e atua por conta própria, na empreendedora idosa que ainda não conseguiu se aposentar e teve a fonte de renda afetada por fazer parte do grupo de risco”.

Ludmila chama atenção para o apoio que o poder público pode dar para quem investe no próprio negócio, especialmente quando se trata de negócios administrados por pessoas negras. “Faltam políticas afirmativas, as informações não são tão divulgadas quanto deveriam ser. Tem poder quem tem o conhecimento e é interessante pra quem tem o poder não o divulgar. O Empoderamento Contábil tem o objetivo de democratizar o ensino da educação financeira e da contabilidade”, conclui a consultora.

Desde o início da pandemia de Covid-19, a demanda da Empoderamento Contábil cresceu muito e fez com que Ludmila ampliasse sua atuação para as redes sociais, promovendo encontros online, produzindo conteúdos sobre gestão de pequenos empreendimentos e tirando dúvidas recorrentes do seu público-alvo. Dúvidas e orientações podem ser obtidas por meio do perfil @empoderamentocontabil no Instagram ou pelo site do projeto.