Pesquisar
Close this search box.

Na segunda onda de Covid-19, população das periferias se mantêm mais vulnerável

2 de dezembro de 2020

Segundo médica infectologista, situação é semelhante ao início da pandemia, quando as contaminações na cidade de São Paulo começaram nas regiões ricas e progressivamente passaram para as regiões periféricas

Texto: Roberta Camargo | Edição: Nataly Simões | Imagem: Gui Christ/National Geographic

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

Em São Paulo, as regiões periféricas seguem mais suscetíveis à Covid-19 nesta nova “onda” da pandemia. Dados levantados pelo Curva das Periferias, boletim epidemiológico elaborado pela Alma Preta e pelo Nós, Mulheres das Periferias, com base em dados oficiais, mostra que distritos como Brasilândia, Sapopemba e Capão Redondo tem números de infectados e mortos cinco vezes maior, embora o primeiro movimento de alta na curva de contaminações da segunda onda seja observado em regiões ricas, como Pinheiros e Morumbi.

Somente em novembro, a soma de mortos pelo novo coronavírus nos distritos da periferia citados foi superior a 1.500, enquanto nas regiões ricas o número foi de 164. A exemplo do início da pandemia, quando os primeiros casos de Covid-19 foram registrados na capital, o número de infectados e de leitos com mais de 80% de ocupação pôde ser notado na rede particular.

A médica infectologista Gladys Prado explica que o movimento deve se repetir durante este repique de vítimas infectadas: “A gente viu primeiro o aumento desses casos nos hospitais privados e depois o SUS acabou aumentando também”.

“A população das periferias tem muito menos condições de fazer home office, mas muitas coisas podem ser feitas. A gente já viu que o ônibus e metrô não têm tanto impacto como quanto a gente se encontrar sem máscara pra uma festa, por exemplo”, explica Gladys. Ainda segundo a médica, a tendência é de que a próxima camada da população a ser infectada sejam as pessoas que vivem na periferia.

Diálogo como solução

A infectologista destaca que o diálogo e a disseminação de informações mais objetivas são fundamentais para a conscientização da população nessa nova onda de contaminações, além disso a retenção do crescimento dos casos precisa ser mais direta para ser efetiva.

Na segunda-feira (30), o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), decretou que todo o estado voltou para a fase amarela de isolamento. A médica questiona: ‘Essa mensagem não chegou. Amarelo significa o quê? O que muda, o que pode ser feito?”.

A população periférica também sofre com a dificuldade no acesso à saúde e, em muitos casos, também é vítima de uma estafa mental que não se limita às regiões ricas da cidade. “As pessoas ficaram muito cansadas. Todas acham que estavam seguras por causa do isolamento, aí acabam se encontrando com amigos e familiares”, destaca Gladys.

A expectativa para este momento é obter soluções mais eficazes quando se trata do sistema de saúde pública em todo o país. A médica da UneAfro reforça que no início da pandemia havia uma “grande deficiência” nos cuidados realizados nos hospitais e com o tempo a situação progrediu: “A gente consegue hoje ajudar melhor do que em março”, avalia.

Com a aproximação das festas de fim de ano e as reuniões feitas ao longo das datas comemorativas, é imprescindível que a população, em especial quem vive na periferia e está mais suscetível ao vírus, tenha consciência do cenário propício que se estabelece para a propagação dos vírus.

“Vai passar, mas não é hora ainda. A gente precisa mesmo se preservar, ter um pouco de paciência e manter os contatos mais restritos ao ar livre, com distanciamento. Não precisa ficar todo mundo sem viver, mas que seja com distanciamento, uso de máscara e álcool gel”, finaliza a médica.

Leia Mais

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano