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Negros são 15,5% dos líderes contratados entre janeiro e junho em São Paulo

24 de setembro de 2020

Profissionais brancos foram mais de 70% dos gerentes e diretores contratados no primeiro semestre e com salários quase 30% maiores; para especialista, empresas devem seguir exemplo da Magazine Luiza, que criou um programa de trainee exclusivo para negros

Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Anna Shvets/Pexels 

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Pessoas negras são menos contratadas para cargo de liderança e quando conseguem a vaga recebem salários menores. Essa é uma das conclusões do levantamento realizado pelo Quero Bolsa, plataforma de vagas e bolsas de estudo no ensino superior, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

O levantamento informa que entre janeiro e junho deste ano houve 18.492 admissões para cargos de liderança no estado de São Paulo. Das quais, 2.866 foram de pessoas negras (15,5%) e 12.956 (70,1%) de pessoas brancas. O salário médio de um profissional branco é de R$ 12.597,28, enquanto que profissionais negros recebem R$ 9.994,46, o que implica uma diferença de 26%. O estudo analisou todas as contratações de ocupações de direção e gerência de pessoas com diploma de ensino superior no primeiro semestre de 2020.

Na comparação entre os gêneros, as mulheres foram menos contratadas que homens. Foram 8.161 (44,13%) profissionais femininas, enquanto que as contratações dos homens alcançaram 10.408 (56,98%). Na análise dos marcadores de gênero e raça é demonstrado que mulheres negras são minoria nesse tipo de admissão, ocupando apenas 6,6% dos cargos. Os homens negros representam 8,9%.

Por outro lado, a taxa de homens brancos é de 39% e de mulheres brancas, 31%. Isso implica dizer que homens brancos preencheram mais que 338% cargos de liderança que homens negros e mais que 490% a mais que mulheres negras.

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Os números de 2020 confirmam a tendência obtida em 2019, quando apenas 16,5% dos profissionais contratados para cargos de liderança foram pessoas negras, no estado de São Paulo. Ao todo, foram 58.621 admissões desse tipo. Dessas, 9.650 profissionais negros (16,5%) e 41.371 (70,6%) brancos. O salário médio de um profissional branco no ano passado  foi de R$ 11.186,24, isso significa 35% a mais que os R$ 8.281,32 recebidos por profissionais negros.

“Em um país com maioria da população negra, esses dados indicam que a maior parte dos processos seletivos continua sendo, inconscientemente, exclusiva para brancos. Segundo levantamento do Instituto Ethos, pessoas negras ocupam apenas 6,3% das posições gerenciais e 4,7% dos cargos executivos entre as empresas brasileiras. Além disso, os quadros executivos apresentam um ínfimo 0,4% de mulheres negras. Todos os dados só reforçam o que é óbvio para os profissionais negros, que são ignorados nos processos seletivos devido ao racismo”, afirma o coordenador de comunicação da EmpregueAfro, Luiz Fernando Ferreira, consultoria de Recursos Humanos focada na Diversidade Étnico-Racial.

Luiz Fernando explica que dentre os fatores para que pessoas negras sejam menos contratadas em cargos de liderança está a desigualdade social imposta a esse grupo desde o nascimento, implicando a falta de oportunidades ao longo da vida como educação, aprendizado de um segundo idioma, intercâmbios e, até mesmo, moradia próxima aos centros, onde estão localizadas as maiorias das empresas.

“Há também um outro fator que é o viés inconsciente, que é uma percepção moldada a partir de episódios passados vivenciados pela pessoa e conceitos preestabelecidos utilizada na tomada de decisões. Vivendo em um país estruturado pelo racismo como o Brasil, é impossível tomar decisões mais justas nos processos seletivos sem antes o avaliador ter consciência sobre as especificidades e particularidades dos candidatos negros”, destaca.

Inclusão de profissionais negros pode diminuir desigualdade

Mesmo que os números ainda mostrem a disparidade racial no mercado de trabalho, a EmpregueAfro sente os efeitos dos movimentos antirracistas, como o Black Lives Matter. Para se ter ideia, só em junho deste ano, a consultoria foi procurada por 64 empresas, isso é mais do que o ano de 2019. Ferreira defende que as empresas sigam o exemplo da Magazine Luiza e promovam mais seleções exclusivas para pessoas negras.

“Esses processos são necessários para romper com o ciclo racista e excludente que privilegia profissionais brancos. A inclusão de profissionais negros é uma forma de diminuir a desigualdade, eliminar os vieses inconscientes, uma vez que os candidatos apresentam perfis mais parecidos entre si, e tornar o processo mais justo” pontua.

As empresas que estão pensando em fazer esse tipo de seleção precisam rever os seus processos de avaliação. Não basta dizer que incentiva grupos que historicamente foram excluídos. “O RH e os gestores precisam, antes de tudo, rever suas réguas de avaliação. Não é possível avaliar profissionais negros da mesma forma que se avaliam os brancos devido à enorme disparidade e desigualdade existente por causa do racismo”, reforça o especialista.

Além disso, a contratação é só uma das etapas da Diversidade e Inclusão. É necessário preparar a empresa e todo o seu quadro profissional para a recepção e retenção do profissional negro, evitando assim constrangimentos e situações racistas. Há ainda o acompanhamento e desenvolvimento desses profissionais, que têm especificidades em decorrência do racismo.

Luiz Fernando ainda ressalta que é mais lucrativo ampliar o quadro de funcionários buscando a inserção de pessoas negras e de outros grupos. “Os benefícios são inúmeros e começam com a promoção da justiça e igualdade, passando pela reparação da dívida histórica provocada pela escravidão e pelo modo como se deu o seu fim e chegando na inovação, lucratividade e aumento de market share da empresa. Segundo a McKinsey & Company Consultoria, empresas com mais diversidade étnica em cargos executivos têm 33% a mais de chance de aumentar o lucro”, frisa.

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