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Conheça a trajetória de Kamala Harris, primeira mulher negra eleita vice-presidente dos EUA

9 de novembro de 2020

Filha de imigrantes da Jamaica e da Índia, a nova vice-presidente eleita acumula diversos “pioneirismos” como mulher negra em cargos públicos; ela também foi alvo de críticas da comunidade negra, apontada como a senadora mais liberal

Texto: Guilherme Soares Dias | Edição: Nataly Simões | Imagem: AP Photo/John Locher

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Com a vitória de Joe Biden, 77 anos, na eleição presidencial dos Estados Unidos, colocando fim na era de Donald Trump, o país norte-americano terá a primeira vice-presidente mulher e negra. Kamala Harris, de 56 anos, e senadora, filha de imigrantes, e acumula diversos “pioneirismos” como uma mulher negra.

O pai, Donald Harris, imigrou da Jamaica para os EUA para estudar economia, e a mãe, Shyamala Gopalan, imigrou da Índia. Na infância, Kamala costumava ouvir o seguinte da mãe: “Não fique parada reclamando das coisas, faça alguma coisa”. A frase a move todos os dias.

A nova vice-presidente americana se formou na Howard University, onde fez parte da fraternidade Alpha Kappa Alpha, e também é formada em Direito pela Universidade da Califórnia, Hastings College of Law. Kamala é casada há seis anos, com o advogado Doug Emhoff, e tem dois enteados, Ella e Cole, que são sua “fonte infinita de amor e pura alegria”.

No site da campanha com Joe Biden, Kamala é descrita com uma mulher que começou a lutar por famílias trabalhadoras no Gabinete do Procurador Distrital de Alameda County, onde se concentrou em processos de casos de violência sexual infantil. A partir daí, ela se tornou a primeira mulher negra eleita promotora distrital de São Francisco. Nesse cargo, ela iniciou um programa para dar uma segunda chance a infratores primários da legislação antidrogas para que eles tivessem a oportunidade de obter um diploma de segundo grau e encontrar um emprego.

Em 2010, Kamala também se tornou a primeira mulher negra eleita Procuradora Geral da Califórnia, supervisionando o segundo maior Departamento de Justiça do país, atrás apenas do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Nessa função, ela administrou um orçamento de US$ 735 milhões e supervisionou mais de 4.800 advogados e outros funcionários. Como procuradora-geral da Califórnia, Kamala lutou pelas famílias e ganhou um acordo de US$ 20 bilhões para proprietários de casas na Califórnia contra grandes bancos que executavam injustamente as hipotecas.

A nova vice-presidente também trabalhou para proteger o Obamacare, ajudou a conquistar a igualdade no casamento para todos e defendeu a lei de mudança climática histórica da Califórnia. Kamala também lutou pelas comunidades californianas e processou gangues transnacionais que dirigiam o tráfico humano, contrabando de armas e quadrilhas de drogas. No Senado em 2016, ela apresentou e co-patrocinou legislação para ajudar a classe média, aumentar o salário mínimo e defender os direitos legais dos refugiados e imigrantes. No Comitê Judiciário do Senado, responsabilizou os funcionários da administração Trump e foi uma voz poderosa contra as indicações judiciais conservadoras de Trump.

Passado problemático

O site Essence, voltado à comunidade negra dos Estados Unidos, relata que o passado de Kamala Harris como promotora foi visto como problemático para alguns eleitores negros. Segundo o site, Kamala é liberal em justiça ambiental, reforma da justiça criminal, imigração, habitação, saúde, empreendedorismo negro e uma série de outras questões.

No primeiro semestre de 2020, Harris foi classificada pela organização apartidária GovTrack como a “mais liberal em comparação com todos os senadores”.

Por outro lado, ela se destacou como uma defensora ferrenha das pequenas empresas, pela proteção para trabalhadores sem seguro e ativista pela justiça social. Quando os manifestantes foram as ruas do país, após a morte de George Floyd, ela esteve presente, com uma máscara de proteção ao coronavírus e dizendo o nome dele junto com os de inúmeras outras vítimas da violência policial.

“Já vi muitos casos não apenas de negros desarmados sendo mortos, mas também de mulheres”, apontou Harris, em entrevista em agosto ao Essence.

A eleição de novembro foi considerada um indicador de quão rapidamente a justiça viria – para as vítimas da violência sancionada pelo Estado. “Eu acredito firmemente, em meu coração e em minha alma, que esta é a eleição mais importante de nossa vida”, declarou Harris horas antes da Convenção Nacional Democrata. “Existem grandes questões em jogo”.

No único debate de vice-presidentes, Kamala disse: “Precisamos resolver imediatamente uma série de questões que exigem prioridade. E isso está relacionado a fazer as pessoas voltarem ao trabalho. Significa investir em infraestrutura e criar milhões de novos empregos. Significa lutar pela saúde de todas as pessoas”. Ela também aproveitou para criticar o atual presidente norte-americano. “Não vamos voltar ao tempo em que Donald Trump insiste que foi ‘ótimo’, um tempo que era cruel com as mulheres e pessoas de cor”, disse Harris com convicção. “É hora de virar a página. E é hora de escrever o próximo capítulo.”

O dia 3 de novembro determinou quem comandaria os Estados Unidos, a nação mais influente do mundo, pelos próximos quatro anos e Kamala Harris fez história. A vice-presidente eleita escreveu na véspera da eleição que Trump não tem nenhum registro para se firmar quando se trata da comunidade negra. “Em vez de tentar enfrentar nossos desafios e nos erguer, temos um presidente que alimenta o medo e a divisão – um que atiça as chamas do racismo e se recusa a condenar os supremacistas brancos ou dizer que a vida dos negros é importante”, descreveu.

Filha do movimento pelos direitos civis

Durante uma visita ao Essence Festival of Culture de 2019 em Nova Orleans, a então candidata falou à multidão sobre como a educação ajudou a moldar a mulher que faz história hoje e como ela deve agradecer a mãe por seu trabalho. “Sou filha do movimento pelos direitos civis”, disse Harris. “Eu cresci em uma família e em uma comunidade de adultos que passavam o tempo todo marchando e gritando sobre essa coisa chamada justiça”, lembrou.

A política e advogada, que atuou como senadora júnior dos Estados Unidos pela Califórnia desde 2017, disse que ela e a irmã, Maya Harris, foram impactadas pelos ensinamentos de sua mãe durante a infância. “Ela nos ensinou o valor à moda antiga do trabalho árduo. Ela nos ensinou a não deixar ninguém dizer quem você é. Você diz a eles quem você é. E ela nos ensinou não só a sonhar, mas a fazer. E ela nos ensinou a acreditar em nosso poder de consertar o que está errado.”

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