Categoria paralisou entregas na quarta-feira (1) em diversas regiões do país pelo fim dos bloqueios nas plataformas, melhores taxas e equipamentos de proteção individual na pandemia; lideranças votam nova data para próximo ato
Texto: Edda Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Divulgação
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“Não existe patrão sem força de trabalho”. A fala de um entregador de aplicativo agitou as ruas de São Paulo na quarta-feira (1), data marcada pela greve geral batizada de #BrequeDosApps. Em diversas capitais, trabalhadores foram às ruas com motos, carros e bicicletas. As exigências iam desde vale alimentação até o fim de bloqueios feitos pelos aplicativos. Organizadores estimam que milhares de pessoas aderiram ao protesto e adiantam que datas para novos atos já estão sendo marcadas.
Segundo um dos organizadores da paralisação nacional, a expectativa de encher as avenidas no primeiro dia de julho foi concretizada. “Foi um ato livre em todo o país, nossa união e fortalecimento ficou maior”, revela Alessandro Sorriso, entregador de Brasília. Membro da Associação dos Motoboys Autônomos e Entregadores do Distrito Federal, o trabalhador também salientou que há votação em andamento nos grupos de WhatsApp para definição de uma nova paralisação.
Um dia após o ato, Sorriso denunciou ao Alma Preta um áudio que tem circulado em grupos de WhatsApp dos entregadores. Trata-se de ameaça para quem participar de manifestações ou fizer o que consideram ‘mal uso dos aplicativos’. Segundo o líder da greve no Distrito Federal, trata-se uma funcionária do dono de uma empresa de Operador Logístico (OL).
“Vou mandar áudio para depois não ter neguin dizendo que não avisei. A gente fez uma reunião com o pessoal do Ifood, eles tinham flexibilizado o banimento de cadastro da plataforma. Esse mês vai voltar com força total, e o banimento da plataforma vem nesses casos aí, principalmente nos rejeitos. O Ifood quer motoboys que não rejeitam pedidos. Se for para rejeitar entregas, realmente não é para estar rodando. Que logue a pessoa que vai trabalhar corretamente. (…) Esse mês, vão começar de novo a fazer banimento de cadastro da plataforma´”. No restante da gravação, a pessoa recomenda o uso do celular com mais de um chip, além de recomendar práticas para evitar o bloqueio.
Além do fim dos bloqueios nas plataformas, entre as reivindicações dos entregadores estão o aumento de taxas de pagamento, auxílio doença e acidente de trabalho e disponibilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI) em razão da pandemia da Covid-19. De acordo com a Pesquisa do Perfil dos Entregadores Ciclistas de Aplicativo, elaborada pela Aliança Bike, a média salarial da categoria é de R$ 963 por mês e pelo menos 14h de trabalho por dia. Do total, 71% dos trabalhadores são negros.
Em Brasília, com faixas e cartazes, o grupo seguiu do estacionamento do Tribunal de Justiça até o Congresso Nacional. A organização estima que pelo menos 200 entregadores participaram do ato.
No Rio de Janeiro, a Praça da Candelária foi o ponto de encontro da categoria. Entregadores também se reuniram em frente ao prédio da Rede Globo, no Jardim Botânico, Zona Sul. Na página do Instagram dos Entregadores Antifascistas, uma publicação anunciava a presença de apoio jurídico de advogados da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Em São Paulo, a manifestação que seguiu da Avenida Paulista até a Ponte Estaiada, na Zona Sul, também foi considerada pela categoria como bem sucedida e reuniu cerca de 2 mil pessoas. “Muita moto, muita bike, muito entregador. Foi uma coisa bonita, pacífica, um ato legítimo de trabalhadores”, considera Tiago Bonini, uma das lideranças do Movimento Entregadores Antifascistas no estado paulista.
Durante o ato, a recomendação era desligar o GPS do celular a fim de não ser identificado pelo aplicativo durante a greve. “Assim os aplicativos não sabem quem é. E se forem bloquear todo mundo vão ficar sem entregador porque a grande massa estava nas manifestações no país inteiro”, pontua Bonini.
Ao longo do dia de manifestações, segundo a Agência O Globo, cinco aplicativos de serviço de entrega monitorados (Ifood, Uber Eats, Rappi, Loggi e James) receberam 53.411 avaliações. Dessas, 96% deram apenas 1 estrela para as plataformas. Na aba de comentários, usuários pediam melhores condições aos entregadores, além de mencionarem a hashtag #BrequeDosApps.
No Twitter, apoiadores também publicaram fotos denunciando mensagens enviadas pelo aplicativo Ifood aos entregadores. As mensagens anunciavam adicional de R$ 30 em pagamento para quem trabalhasse nesta quarta-feira (1) em São Paulo. “Às vezes, em horário de almoço, há promoções de adicional de R$ 2 para cada pedido finalizado. Hoje, recebemos mensagens de entregadores falando de adicional de R$ 20 e até R$ 30. É estratégia que eles fazem, às vezes o cara ali na corda bamba vê R$ 30, pode querer desistir da greve”, conta Bonini.
iFood oferece trinta reais de adicional para quem rodar hoje! Tem dinheiro pra isso mas não tem para atender a demanda dos trabalhadores? #BrequeDosApps pic.twitter.com/gq2KI1xSCq
— Igor Galvão #BrequeDosApps (@igorgalvao21) July 1, 2020
O Alma Preta questionou a Ifood sobre a mensagem recebida pelos entregadores de São Paulo e que viralizou nas redes sociais. A empresa afirmou, em nota, que não realizou promoções para os entregadores. “Não existem incentivos de rotas de qualquer valor no dia de hoje. A exceção é Porto Alegre, onde lançamos apenas um adicional de rota de R$ 2 para a cidade por conta do clima”.