Núcleo foi formado na USP em 2005; obras da cia. incluem textos de bel hooks e Carolina Maria de Jesus
Texto: Juca Guimarães
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O teatro é um grande espelho da sociedade que também avança sobre sonhos e expectativas dentro desta mesma sociedade. Indicando sempre que possível as direções que deveriam ser tomadas. Há 15 anos, a pauta racial é muito bem representada pela Companhia Os Crespos.
Conheci o trabalho do grupo por volta de 2015, quando completaram dez anos. Na época, havia uma ascensão de companhias de atores negros e de peças abordando a temática negra. Os atores Sidney Santiago e Lucélia Sérgio, que eu acompanhava mais de perto, estavam sempre divulgando e promovendo o trabalho das demais companhias negras. O ativismo e a consciência de classe da dupla, assim como o talento no palco, me impressionaram bastante.
O coletivo surgiu na Universidade de São Paulo (USP) por iniciativas de alunos da Escola de Artes Dramática (EAD), quando não havia ainda a política de cotas afirmativas na universidade. Eram poucos os estudantes negros na turma. Mas eles se uniram e formaram uma companhia. O primero nome escolhido foi Filhos de Olorum.
Na minha opinião, os Crespos são um elo significativo entre a tradição de luta do Movimento Negro na cultura brasileira e o surgimento dos diversos projetos de emancipação de artistas negros em diversos setores do audiovisual nas últimas décadas.
A construção de uma classe teatral forte e engajada nas lutas sociais é verdadeiramente uma maneira dos artistas contribuírem para melhorar a sociedade. Eu aprendi isso vendo o trabalho da companhia Os Crespos com dezenas de projetos em várias áreas.
O grupo participou logo no ano de lançamento da companhia do “Encontro Pensando a Negritude”. Em 2006, a companhia paulistana participou do 2º Fórum Nacional de Performance Negra, em Salvador (BA), realizado pelo Bando de Teatro Olodum, que revelou o ator Lázaro Ramos, e Cia. dos Comuns, criada pelo ator Hilton Cobra.
O espetáculo Ensaio Sobre Carolina, da Cia. Os Crespos, foi um estrondoso sucesso nacional e internacional que trouxe mais luz à obra Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus.
A partir de 2010, o grupo passou a fazer também curta-metragens como D.O.R, Pede Desculpas e Nego Tudo. Nas artes cênicas, ele promoveram a Primeira Mostra de Teatro Negro, também em 2010, em parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares.
O ativismo do grupo Os Crespos está presente nas diversas camadas de temas e abordagens que eles levam para os palcos, praças e telas. Por exemplo, as relações afetivas da peça Além do Ponto, inspirado nos textos da bell hooks (nome escrito sempre com letra minúsculo por opção da autora que se chama Gloria Jean Atkins). De acordo com o grupo, falar de afeto negro é militar sobre a própria existência do negro.
Em 2014, a companhia deu mais um mergulho profundo na discussão de negritude no espetáculo Cartas à Madame Satã ou Me desespero sem notícias tuas. Outro ponto marcante daquele ano foi o lançamento da revista Legítima Defesa, que grupo editou para falar sobre Teatro Negro. O segundo número da revista saiu em 2016.
Ao completar 15 anos de trabalhos contínuos, a companhia prepara dois novos espetáculos, um adulto e outro infantil, para o pós-pandemia. Enquanto isso, na próxima semana, dia 26 de maio, a companhia retorna com o projeto Terças Crespas, versão on-line, pelo instagram do Centro Cultural São Paulo, às 19h30, para debater o desaparelhamento da Cultura Brasileira e o impacto nas artes negras. Os convidados serão Lázaros Ramos, Hilton Cobra, Gal Martins e Leda Maria Martins.
Vida longa aos Crespos!