Em quase todo o continente, existem cinco leitos para cada um milhão de pessoas; infográficos elaborados pelo Alma Preta trazem os números de infectados e de mortos por região
Texto: Nataly Simões | Edição: Simone Freire | Imagem: Reprodução/Lusa
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Apesar de os 54 países da África terem registrado juntos até o momento 25.129 casos do Covid-19, o novo coronavírus – uma parcela dos mais de 2 milhões de casos confirmados em todo o mundo -, o continente pode se tornar em poucos meses o novo epicentro da doença, com 10 milhões de infectados. É o que avalia a Organização Mundial da Saúde (OMS) com base na escassez de recursos de diversos países para lidar com a pandemia.
A diretora da organização na África, Matshidiso Moeti, informou, em entrevista à BBC, que o novo coronavírus tem se espalhado das capitais para as cidades do interior de países localizados em diferentes regiões do continente como é o caso do Egito, África do Sul e Camarões.
Segundo Matshidiso Moeti, a OMS está focada na prevenção da disseminação do vírus em vez do tratamento porque os países não têm capacidade para tratar um alto número de pacientes devido à falta de respiradores. A preocupação agora é de que a doença se espalhe em áreas superlotadas, onde não é possível praticar o distanciamento social e a população não possui acesso à água e sabão.
“Queremos minimizar a proporção de pessoas que chegam a precisar de cuidados críticos em UTI [Unidades de Tratamento Intensivo] porque sabemos que esses tipos de instalações não são adequadas na maioria dos países africanos. Devo dizer que a questão dos ventiladores é um dos maiores desafios que os países estão enfrentando”, afirmou.
Dados da OMS indicam a existência de menos de 5 mil leitos disponíveis para uso em UTIs em 43 países africanos. São cerca de cinco leitos para um milhão de pessoas. No caso da Europa, onde a pandemia se mostrou devastadora em países como Espanha e Itália, a quantidade de leitos é de 4 mil para um milhão de pessoas.
Para amenizar os efeitos da pandemia, a maior parte do continente africano já decretou medidas de distanciamento social como toques de recolher, fechamento dos comércios não essenciais e restrições de viagens. A exemplo da África do Sul, com 3.158 casos confirmados de Covid-19 e 54 mortes até a segunda-feira (20), segundo informações da União Africana.
Localizado na África Meridional, o quinto país mais populoso do continente africano, com aproximadamente 57 milhões de habitantes, possui o maior número de infectados. Por lá, o presidente Cyril Ramaphosa estendeu a quarentena compulsória até pelo menos o dia 30 de abril.
Todas as fronteiras da África do Sul estão fechadas e a circulação de pessoas se limita à obtenção de serviços e bens essenciais. Para resguardar a população em situação de rua, as autoridades recorreram a abrigos improvisados em estádios esportivos e escolas.
Embora tenham registrado até o momento um número de infectados menor que a África do Sul, países do Norte do continente já contabilizam um número de mortes muito superior. O Egito, com 3.144 casos confirmados, registrou 239 mortes. Seguido por Marrocos, com 2.990 casos e 143 mortes. O maior número de mortos foi registrado na Argélia, com 375 óbitos e 2.629 casos.
O Egito foi o primeiro país africano a registrar um caso do Covid-19, em 14 de fevereiro. A primeira morte pela doença foi confirmada no país quase um mês depois, em 8 de março. Para frear a disseminação da doença, o governo suspendeu o transporte público e privado e apenas serviços essenciais permanecem abertos, como padarias e farmácias. No país, onde cerca de 90% da população é muçulmana, as orações em mesquitas, um dos importantes rituais do islamismo, também estão suspensas desde 21 de março.
No Marrocos, por sua vez, todas as fronteiras aéreas, marítimas e terrestres estão fechadas. Já na Argélia, o número de mortes poderia ser ainda maior se o governo não tivesse adotado medidas rígidas de distanciamento social ainda em março. Além do fechamento das fronteiras, as autoridades proibiram o funcionamento de todos os espaços públicos.
O número de mortes decorrentes do Covid-19 também é alarmante na África Central. Camarões, com 1.016 casos confirmados, lidera disparadamente o número de mortes, que chega a 42. Em seguida está a República Democrática do Congo, com 25 mortes e 332 infectados.
Em Camarões, desde que o primeiro caso de contaminação pelo novo coronavírus foi confirmado, no início de março, o número de infecções subiu rapidamente, atingindo mais de 850 casos no começo de abril.
Na África Ocidental, a disseminação do Covid-19 também está se agravando. O país com o maior número de casos confirmados é Gana (1.042), mas o maior número de mortes foi registrado em Burkina Faso, com 36.
Por fim, na África Oriental, os países com o maior número de casos confirmados de Covid-19 são Djibouti (849), Ilhas Maurício (328), Quênia (281), Tanzânia (170), Somália (164), Ruanda (147), Madagascar (121) e Etiópia (111). A maior letalidade da doença até o momento foi registrada no país queniano, que contabiliza 14 mortes.