O Brasil quer expandir as relações diplomáticas e comerciais com países africanos e busca apoio da África na defesa de temas de interesse do chamado “Sul Global”. Foi o que declarou o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula Silva (PT), nesta terça-feira (22), durante seu discurso no Fórum Empresarial do Brics.
Em sua fala durante o evento da 15ª cúpula do grupo, em Joanesburgo, na África do Sul, Lula criticou o afastamento do Brasil em relação aos países africanos nos governos brasileiros recentes.
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“É inaceitável que, em 2022, o comércio do Brasil com a África tenha diminuído em um terço com relação a 2013, quando era de quase US$ 30 bilhões [cerca de R$ 148 bilhões na cotação atual]. O fluxo comercial com a África ainda corresponde a apenas 3.5% do comércio exterior do Brasil”, disse Lula em seu discurso, acrescentando que o continente foi “prioridade” em seus mandatos anteriores e que Brasil e África compartilham, além de laços históricos, “uma visão comum de futuro”.
O estreitamento dos laços com países africanos foi parte relevante da política externa brasileira durante os governos anteriores do PT. Em seus primeiros dois governos, Lula visitou 21 países africanos. Essa estratégia, porém, foi abandonada durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, entre 2016 e 2022.
“O fluxo comercial com a África ainda corresponde a apenas 3.5% do comércio exterior do Brasil […]. Há muito espaço para crescer”, disse o presidente brasileiro, que deve visitar Angola e São Tomé e Príncipe até o final da semana.
Conforme levantamento de 2022, a África é a segunda região com menor fluxo de trocas comerciais com o Brasil — atrás apenas de América Central e Caribe. Atualmente, o país africano com o qual o Brasil tem laços comerciais mais intensos é a Argélia. Apesar disso, segundo dados deste ano do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), o país é apenas o 25º do ranking de importações e o 30º em termos de exportação.
Lula cita oportunidades econômicas e pede apoio da África na defesa do “Sul Global”
Em seu discurso, Lula citou “oportunidades” no continente para empresas brasileiras, incluindo a Embrapa. O mandatário apontou que a África tem hoje 65% das terras agricultáveis do mundo, acrescentando que o Brasil pode ajudar a desenvolver esse potencial.
“Por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária [Embrapa], fizemos do Cerrado uma área de alta produtividade agrícola e podemos replicar essa experiência na Savana africana”, disse.
Além de acenar com parcerias e estreitamento das relações Brasil-África, o presidente brasileiro também citou temas de interesse do Brics em meio ao contexto geopolítico de tensão após a guerra da Ucrânia.
Nesse contexto, Lula voltou a sinalizar apoio ao uso de moedas locais e a adoção de uma unidade de contas — em detrimento do dólar — no comércio entre países do bloco. O presidente brasileiro citou o Banco Africano de Desenvolvimento como parte da estratégia de cooperação.
“Ao diversificar fontes de pagamento em moedas locais, expandir sua rede de parceiros e ampliar seus membros, o NDB [Novo Banco de Desenvolvimento ou Banco dos Brics] constitui uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre países em desenvolvimento. Nessa estratégia, o engajamento com o Banco Africano de Desenvolvimento será central”, disse o mandatário.
Além do banco africano, Lula citou o ingresso da União Africana no G20 como forma de, ao lado dos países do Brics, apoiar “temas de interesse do Sul Global”.