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Para especialistas, futebol brasileiro não reconhece os atletas negros

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31 de outubro de 2019

De modo geral, existem poucas ações dos clubes para reconhecer seus atletas, principalmente os negros, avaliam fontes ouvidas pelo Alma Preta

Texto / Lucas Veloso | Edição / Pedro Borges | Imagem / Reprodução/Santos TV

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O futebol brasileiro, cinco vezes campeão do mundo, não empodera meninos negros. Isso é o que acredita o idealizador e diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho.

Para ele, questões importantes ainda não são trabalhadas nos clubes. “Eu vejo como uma alternativa importante que se dá às comunidades mais pobres, sobretudo os negros. É uma possível opção de ascensão social, mas que pouco faz na formação como pessoa e nas questões sociais, como o sentido racial”.

Em sua avaliação, falta muito trabalho para que o futebol empodere os garotos negros. Primeiro porque os atletas saem cedo de casa, por volta dos 11 anos, para viverem, em suas palavras, ‘situações de penúria’ com as estruturas oferecidas pelos clubes. Depois, quando alcançam espaço, pouco são instigados a pensarem politicamente na sociedade. Em suas palavras, ‘nas questões sociais, os clubes pouco se importam’.

Por outro lado, o historiador Rodrigo Benevenuto, criador do projeto ‘Salve Kebrada’, que atua com futebol de várzea na periferia de São Paulo, acredita que o futebol traz autoestima aos atletas.

Ele exemplifica a tese com a citação de alguns jogadores que para ele, são referências para os atuais atletas, como Romário, Marcelinho Carioca, Denilson e Djalminha. “Se a gente observar esses jogadores, eles possuíam certas características, como habilidade, poder de decisão e até estilos que passaram a ser copiados”, pontua.

A iniciativa fundada por Benevenuto atua com ações no território, como saraus, rodas de conversa e a prática do futebol de várzea.

Morador do Jaraguá, noroeste de São Paulo, ele comenta que mais recentemente, jogadores como Neymar, Lucas Moura, Vinícius Júnior também estão no imaginário dos boleiros, pelo jeito de jogar e pelo estilo. “Muita gente se espelha no linguajar, cortes de cabelo e nas roupas dos jogadores”, observa.

“O futebol é algo que os jovens negros se sentem pertencentes. Dá para fazer um paralelo com os negros no basquete, os africanos nas provas de maratona. No Brasil, apesar de crescentes casos de racismo, o negro ‘se garante’ no futebol. Existe uma sensação de que ‘não precisa provar nada pra ninguém’”, relaciona Benevenuto.

Valorização dos atletas

“Quantos clubes tem em seus atletas negros seus representantes maior? Poucos. Iniciativas de valorização são mínimas. Os clubes sempre pensaram em ações de marketing, e menos de alguma causa”, pontua Carvalho.

Em setembro, o Santos lançou uma minissérie com a história de jogadores negros do clube. Intitulada ‘Time de Branco e Preto’, a nova produção da Santos TV, o canal no YouTube do Peixe, é narrada pelo rapper Emicida.

O primeiro episódio apresenta os dois primeiros negros a vestirem a camisa alvinegra: Milton e Esmeraldo. Os ídolos Pelé, Edu, Serginho Chulapa e Neymar também estão na produção, assim como a jogadora Maria Dias, das Sereias da Vila e outros jogadores da história recente do clube, como Rodrygo.

Carvalho observa que ações como a do clube paulista são poucas no país. “De maneira geral, o futebol pouco valoriza seus craques. Pelé é um ponto fora curva, pelo reconhecimento internacional. A possibilidade de ter um craque a cada quatro anos faz com que o brasil pouco valorize seus ex-jogadores”, analisa.

A opinião é dividida com Benevenuto, que não vê o Brasil como país que valoriza seus ídolos negros. “Garrincha e Pelé por serem gênios entraram no nosso imaginário. Mas Pelé sempre foi cooptado pelas elites do Brasil, que herdam a tradição escravocrata, e no limite transformam Pelé num símbolo da democracia racial”.

“Garrincha, por exemplo, é muito lembrado pela boemia e a ‘vida fora dos campos’. Acho que isso demonstra que não há valorização, e sim uma forma de transformar esses ídolos em personagens de um Brasil formulado por pequenos e poderosos grupos”, critica.

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