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Mortes em Paraisópolis: ‘Polícia usa as drogas como desculpa para reprimir negros e pobres’

Ação policial na segunda maior favela da cidade deixou nove pessoas mortas no primeiro dia de dezembro

2 de dezembro de 2019

Os moradores de Paraisópolis, segunda maior favela de São Paulo, começaram dezembro em luto pelas nove pessoas mortas pisoteadas durante uma ação policial na madrugada do domingo (1º).

A pedagoga e integrante da Frente Nacional de Mulheres do Funk, Renata Prado, classifica como injustificável a atuação violenta da polícia. Ela destaca que a forma como as ações policiais atuam muda de acordo com o local e o público.

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“Nada justifica a polícia dispersar de forma violenta uma manifestação cultural na periferia. Em festas rave, por exemplo, se a polícia realiza alguma apreensão de material ilícito, ela não chega batendo nas pessoas e nem faz com que sejam pisoteadas. Isso porque quem frequenta raves são jovens brancos e ricos, enquanto o público do baile funk na periferia, é negro e pobre”, afirma.

Cerca de cinco mil pessoas participavam do baile funk no momento da ação policial. De acordo com imagens divulgadas nas redes sociais e relatos de moradores, os frequentadores foram encurralados pela Polícia Militar em vielas estreitas, levando alguns jovens a tropeçar e serem mortos.

A Polícia Militar afirma que a confusão começou após uma troca de tiros em uma perseguição a suspeitos em uma moto. O tenente-coronel Emerson Massera alega que criminosos “utilizaram pessoas que estavam no baile funk como escudos humanos”. A versão dos sobreviventes e familiares das vítimas é diferente. Eles contam que a polícia chegou atirando bombas de gás e balas de borracha.

Em nota enviada para a Alma Preta, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que “todas as circunstâncias relativas aos fatos estão sendo apuradas pelas Polícias Civil e Militar. O boletim de ocorrência está em elaboração no 89º DP”.

Para Renata Prado a criminalidade não pode ser usada como desculpa para as forças policiais invadirem bailes funk.

“Sabemos que existem materiais ilícitos em todos os espaços da sociedade, mas ação violenta da polícia não. O que aconteceu em Paraisópolis deve servir de alerta para a sociedade entender que a polícia usa as drogas como desculpa para reprimir a juventude negra e pobre”, sustenta a pedagoga e integrante da Frente Nacional de Mulheres do Funk.

‘A quebrada quer paz’

Aos gritos de “a quebrada quer paz”, centenas de moradores de Paraisópolis protestaram na noite do domingo (1º) contra a ação policial que terminou com nove mortos. A população levantou cartazes e cruzes em referência às mortes e também fez uma oração.

Críticas ao governo de João Doria (PSDB) também marcaram o ato. Nas redes sociais, o governador afirmou “lamentar profundamente as mortes” e pediu apuração do secretário de segurança pública, general Campos, para “esclarecer quais foram as circunstâncias e responsabilidades deste triste episódio”.

Anteriormente, Doria já havia se posicionado contra as manifestações culturais que ocorrem nas favelas. Em 2016, época em que foi eleito prefeito de São Paulo, Doria afirmou que “baile funk é um cancro que destrói a sociedade”.

Na favela de Paraisópolis, o baile funk conhecido como “baile DZ7” existe desde 2010. A atração já reuniu até 30 mil pessoas e movimenta o comércio legal.

Apesar de o alto barulho do som ser alvo de quem se posiciona contra o baile, a atração não está entre as principais queixas dos moradores ao poder público. O ranking de reclamações da população, pesquisado pela União de Moradores e Comerciantes, é liderado por problemas de saneamento básico como a coleta de lixo.

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  • Nataly Simões

    Jornalista de formação e editora na Alma Preta. Atua há seis anos na cobertura das temáticas de Diversidade, Raça, Gênero e Direitos Humanos. Em 2023, como editora da Alma Preta, foi eleita uma das 50 jornalistas negras mais admiradas da imprensa brasileira.

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