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Eleitorado negro se sente mais representado na política por mulheres

7 de março de 2018

Os três nomes negros que mais representam os afrodescendentes na política são Leci Brandão (PC do B), Benedita da Silva (PT) e Marina Silva (Rede). De acordo com a autora da pesquisa, a resposta reforça o papel de liderança das mulheres dentro da comunidade negra. Ativistas e intelectuais negras também apontam os limites da política de identidades.

Texto / Pedro Borges
Imagem / Divulgação

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Três mulheres negras são apontadas como as figuras do meio político que mais representam o eleitorado afro-brasileiro. De acordo com o estudo Afrodescendentes e Política, 46% dos entrevistados que conhecem um candidato negro se sentem representados por Leci Brandão (PC do B), 27% por Benedita da Silva (PT) e 25% por Marina Silva (Rede).

Para Luanna Teófilo, coordenadora da pesquisa, o documento aponta o papel de liderança das mulheres negras, apesar de inseridas em uma sociedade racista e machista.

“Há um histórico ancestral de lideranças negras femininas. Se por um lado há um traço negativo brasileiro em relação à mulher negra, o estudo também demonstra a força delas”.

Questionados se conheciam algum político negro, 64% dos participantes do estudo disseram que sim e 36% que não. Entre os que conheciam, 23% deles citaram Leci Brandão, 10% Paulo Paim (PT) e 10% Benedita da Silva.

Depois, uma imagem com a foto de vários políticos que podem ser candidatos em 2018 foi apresentada ao público e foi perguntado quais desses o entrevistado já havia ouvido falar. Marina Silva foi recordada por 80,9% do público, Leci Brandão 78,3%, Netinho de Paula (PDT) 79%, Agnaldo Timóteo 72,9%, Benedita da Silva 64,9%, Orlando Silva (PC do B) 55,6%, Fernando Holiday (DEM) 38,8%, e Paulo Paim 35,6%.

A presença entre os mais recordados de nomes como Fernando Holiday, contrário às cotas raciais e ao feriado da consciência negra, e Marina Silva, defensora de uma política econômica neoliberal, exige uma reflexão sobre os limites da política de identidades, segundo Rosane Borges, doutora em comunicação pela ECA-USP e autora do livro “Esboços de um tempo presente”.

“Eu posso até me identificar com a Marina Silva, mas a identificação não supõe que ela representa a população negra enquanto um segmento que tem reivindicações históricas. Ela se autoidentificar e se autoreconhecer como negra não é suficiente”.

Suzane Jardim, historiadora e uma das autoras da obra “Tem Saída?”, acredita que a exigência de figuras representativas no plano identitário seja uma pauta mais recente para a população negra brasileira se comparada à norte-americana.

Para ela, é interessante se ater ao exemplo norte-americano para que a comunidade negra brasileira não repita os mesmos equívocos de lá, aqui. Os EUA, por exemplo, tiveram um presidente negro, Barack Obama, e uma série de figuras no legislativo e executivo, fatores que não frearam a violência racial naquele país.

Obama Reprodução Corpo

Barack Obama, ex-presidente dos EUA (Foto: Divulgação)

“Nunca antes na história dos EUA se teve tantos congressistas negros. O ponto paradoxal de tudo isso é que mesmo com tanta representação política de um modo inédito, não se impediu o extermínio do povo negro, denunciado pelo Black Lives Matter, não se impediu que a polícia continuasse sendo esse braço armado e que o encarceramento em massa continuasse nesses níveis”.

Por isso Rosane Borges crê na necessidade de convergir com os dois aspectos, a representação identitária e política.

“Não basta a pessoa se dizer negra. A gente tem que pensar na política de representação do voto, para uma plataforma que de fato possa responder, atender e estar em consonância com uma base política de reivindicação das mulheres, negros, LGBTs”.

A pesquisa, realizada entre 17 e 27 de Novembro de 2017, foi feita na cidade de São Paulo. Foram ouvidos 1.607 eleitores nas diferentes regiões da cidade. 9% dos entrevistados moravam no centro, 16% na zona norte, 21% na leste, 24% na oeste e 30% na sul.

O nível de confiança do estudo é de 95%, com a margem de erro de 3%. A pesquisa foi quantitativa e entrevistou pretos e pardos, o que segundo o IBGE compõem o grupo racial negro, com mais de 16 anos de idade.

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