Vertente atende especificidades de mulheres negras, como solidão, salários e vagas no mercado de trabalho, acesso à saúde pública, violência e educação
Texto / Thalyta Martina
Imagem / Pedro Borges
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No dia 8 de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Para além das flores, da cor rosa em alguns produtos, para além dos chocolates e mensagens no aplicativo de mensagens WhatsApp, nesse dia acontecem marchas, protestos, falas de diversas mulheres expondo suas dores, reivindicações, lutas e conquistas até os dias atuais.
O feminismo, com diferentes vertentes, dialoga com mulheres de classe, sexualidade e raça distintas.
Sabendo dessa diversidade, o Alma Preta decidiu expor para vocês o feminismo negro e os motivos pelos quais ele é importante para nós.
A lista não foi feita por ordem de importância e nem é limitadora. Seriam necessários mais do que 5, 10, 20, 100 itens para demonstrar como essa vertente importa. Sabemos que no feminismo negro, a depender da classe social e da sexualidade da pessoa, as prioridades mudam.
As diferenças, porém, não apagam em nada as demandas em comum das mulheres negras.
1. É um caminho comum a muitas de nós conhecer primeiro o feminismo branco. É comum ter decepções com pautas que não nos contemplam, com conversas que estão muito distantes da nossa realidade e começar a procurar vertentes que nos entendam e que lidem de forma mais próxima com os nossos problemas.
Um exemplo muito citado é em relação ao trabalho. Enquanto mulheres brancas lutavam pelo direito de trabalhar, nós já estávamos trabalhando há muito tempo, inclusive em regime de escravidão.
2. Mulheres negras com idade entre 15 e 29 anos tem duas vezes mais chances de serem mortas no Brasil do que mulheres brancas com a mesma idade. São dados do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência 2017. O Atlas da Violência 2017 revela que a mortalidade de não-negras (brancas, amarelas e indígenas) caiu 7,4% entre 2005 e 2015, enquanto que entre as mulheres negras o índice subiu 22%.
3. Dados do IPEA de 2013 mostram que 51,1% famílias brasileiras são chefiadas por mulheres negras. Mulheres negras recebiam 51,1% do rendimento das mulheres brancas e de cada cem mulheres negras chefes de família, onze estavam desempregadas. Entre mulheres brancas este número era de sete.
Isso evidencia como somos atingidas pela solidão em relacionamentos e pelo mercado de trabalho racista que nos deixa por último para contratações e em primeiro lugar para demissões.
4. Ainda é comum ouvir de mulheres negras o quanto elas têm seus corpos objetificados. Reduz-se toda uma história a formas de corpos e estereótipos de como somos na cama. “Mulher negra pra transar e não para casar”. Ainda lutamos para sermos respeitadas.
Algumas mulheres brancas lutam para não serem vistas como a pura do lar do comercial de margarina. Nós, muitas vezes, lutamos para sermos vistas como pessoas que podem constituir família. Não queremos ser apenas um corpo servil, um corpo forte e trabalhador, muito menos um corpo-objeto.
5. Por último aqui nessa lista, mas não menos importante, a violência obstétrica que atinge uma em cada quatro mulheres no nosso país, de acordo com o Ministério da Saúde, precisa ser destacada. 65,9% das mulheres vítimas são negras.
Isso acontece pelo racismo que nos faz ter atendimento precário, que nos faz ter pouca ou nenhuma anestesia, que nos faz perder nossos filhos também pela mão do estado. Falo “também” porque essa criança negra também terá, ao longo da vida, mais chances de morrer do que qualquer outra criança branca.