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“O racismo institucional produz doenças e mortes”, diz especialista

10 de julho de 2018

Estatísticas mostram que a população negra tem condições desfavoráveis no acesso ao atendimento médico e a medicamentos

Texto / Aline Bernardes
Imagem / Mauro Pimentel (AFP)

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Marcos Vinícius da Silva, 14 anos, estava a caminho da sua primeira aula de quarta-feira, em 20 de junho. Naquele dia, dois blindados e um helicóptero davam apoio a uma operação policial. De dentro das aeronaves, os policiais atiravam a esmo sobre uma área densamente povoada por civis. Enquanto corria, uniformizado para a escola, o menino foi baleado na barriga. Rivaldo Barbosa, chefe da Polícia Civil, disse em entrevista à Globo News que o tiro que matou Marcos não foi dado de cima, mas sim do chão. Outras seis pessoas foram também atingidas pelos disparos.

Bruna da Silva, mãe de Marcos, contou aos jornalistas que o seu filho seria levado a uma unidade mais equipada, mas a ambulância demorou cerca de uma hora para entrar na favela. Policiais teriam impedido o socorro ao enviar a ambulância voltar à Avenida Brasil e o resgate só teria sido efetuado após receber uma ordem superior. Com isso, o estudante não resistiu e veio a óbito horas depois.

Esse não é um caso isolado e, como os outros, têm um agravante: a cor da pele. Marcos era negro.

Estudos nacionais e internacionais constatam que se não existisse discriminação racial no sistema de saúde do Brasil, a sua morte poderia ter sido evitada. Marcos não tinha um centro hospitalar com os equipamentos necessários para a gravidade do acidente e demorou a ser socorrido.

Esse é um exemplo de como o racismo na área da saúde está nas pequenas negligências que se acumulam. “A ideia de raça permeará o atendimento deste paciente até a construção do imaginário de que um negro ferido é bandido, então não merece ser assistido”, explica Mônica Mendes, 32, psicóloga especializada em saúde pública.

Racismo no Sistema de Saúde adoece população negra no Brasil

Números da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2015 mostram que há importante nível de desigualdader entre a saúde de pessoas brancas e negras. Entre toda a população branca atendida nos centros hospitalares, 9,5% sentem-se discriminadas. O percentual aumenta entre pardos (11,4%) e pretos (11,9%), ambas as nomenclaturas adotadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para configurar a população negra no país.

Ainda sobre os quesitos pesquisados pela PNS, a população negra apresenta desvantagens em todos eles: eles se consultam menos com médicos e dentistas, e têm menos acesso a remédios receitados no atendimento. Essa população esteve mais propensa a ter dengue e tem mais problemas de saúde que impedem alimentação. Além disso, estão entre os que menos possuem planos de saúde – exceto quando o empregador paga a conta.

“A organização do sistema de saúde funciona a partir dos territórios, portanto, os dispositivos de saúde, a UBS e os hospitais são mais precários em áreas periféricas, que atendem à maior parte da população preta”, diz Mônica.

Para a psicóloga, mesmo em regiões periféricas, a população negra enfrenta mais dificuldades do que a branca, o que dificulta o direito da população negra ser devidamente assistida. 

“O racismo institucional produz doença e morte”, finaliza.

Desigualdade social também dificulta acesso à saúde

A desigualdade racial na saúde tem relação com preconceito em si. Apesar de abarcar grande miscigenação, a democracia racial não faz parte da realidade brasileira.

“É possível que na busca dos primeiros cuidados em saúde, na porta de entrada do Sistema, este usuário negro se depare com um profissional despreparado para lidar com a temática racial”, diz Cláudia Simões, 39, assistente social e doutoranda na área da saúde.

Há também a desigualdade econômica, já que historicamente, a população negra tem menos poder aquisitivo para pagar um plano de saúde privado do que a população branca. Além disso, é necessário levar em conta a informalidade no emprego, que é maior entre pretos e pardos – mulheres negras que trabalham como domésticas sem carteira assinada não têm direito ao plano de saúde, por exemplo.

Ações de combate ao racismo na saúde

Para reverter essa realidade, o governo federal promove algumas ações, como a “Campanha SUS Sem Racismo”, programa lançado em 2014 com formação a distância para cinco mil profissionais de saúde do todo o país.

Além disso, R$ 2 milhões foram destinados a pesquisadores para a descoberta de maneiras para ser possível coibir a discriminação no sistema público de saúde. Os resultados dessas ações serão alcançados em 2019, quando a PNS atualizar a pesquisa.

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