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Não é Halloween, é dia do Saci Pererê

31 de outubro de 2018

O grupo Sosaci busca resgatar o folclore brasileiro com o jovem preto de uma perna só que é símbolo da resistência dos negros e índios do país

 

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Texto/Beatriz Mazzei

Imagem/Reprodução

Por conta das influências culturais dos Estados Unidos, no dia 31 de outubro os brasileiros lembram o Halloween, em homenagem ao Dia das Bruxas. Entretanto, desde 2003, também comemora-se o Dia do Saci Pererê na mesma data, ícone do folclore brasileiro. A ideia partiu do grupo Sosaci (Sociedade dos Observadores de Saci), organização responsável por resgatar e difundir o folclore.

Oficializada em 2004 a partir da lei federal nº 11.669, de 13 de janeiro, o Dia do Saci Pererê busca valorizar a cultura popular e os mitos brasileiros. O intuito de colocar a data no mesmo dia do Halloween é chamar a atenção da população para as lendas nacionais.

Além do Estado de São Paulo, o Dia do Saci Pererê também é oficial em outros nove municípios: São Luiz do Paraitinga, Guaratinguetá, São José do Rio Preto e Embu das Artes (SP); Poços de Caldas e Uberaba (MG); Fortaleza e Independência (CE); e Vitória (ES).

A história do Saci: um símbolo brasileiro

Em sua origem, Saci Pererê se chamava Çaa cy perereg, nome em tupi-guarani designado pelos índios da região sul do Brasil, zona de fronteira com o Paraguai. Na versão indígena, o Saci era um jovem índio de cabelos vermelhos.

Contudo, por conta da aproximação dos povos negro e indígena no período da Colônia e do Império, e pela oralidade das lendas, o mito do Saci foi apropriado pelos negros escravizados, que deram à figura as características vistas nos livros de Monteiro Lobato e nos desenhos de Ziraldo: um jovem de pele retinta, cachimbo de preto velho, com personalidade brincalhona e travessa, e o dom de viajar por moinhos de vento e não parar em lugar algum.

Livre e solto, Saci desfruta de uma liberdade que lhe custou uma perna. A lenda diz que o menino perdeu o membro em uma luta de capoeira contra um capataz. A história representa a violência e a mutilação que ocorriam nos cativeiros, assim como a resistência durante o período escravagista, em que os negros fugiam e enfrentavam os capitães do mato com golpes de capoeira.

Além das influências indígenas e negras, que fazem do Saci um símbolo da resistência, seu “gorro” vermelho é na verdade um piléu romano, presente em muitas lendas de duendes na Europa

O gorro, que concentra os poderes mágicos do Saci, também é um emblema da liberdade na Roma antiga. Por conta do gorro vermelho, Saci é livre para se transformar em ave e sair voando, além de pregar peças e se divertir.

Nas histórias mais antigas, Saci também é o guardião das florestas, defensor dos animais e da natureza. Diz a lenda que ele é um conhecedor de toda a fauna e flora.

Por todas essas questões, o Pererê é uma referência mitologia que afirma a identidade cultural negra e indígena. Ele simboliza a liberdade do escravo: aqueles que foram oprimidos e hoje salteiam, mesmo que com as dificuldades de quem pula com uma perna só.


 

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