Mestre Bimba foi responsável por reformular a capoeira e fazê-la ser reconhecida como esporte. É lembrado como grande educador e responsável pela expansão da prática que atualmente está presente em mais de 160 países
Texto / Thalyta Martins
Imagem / Reprodução
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Mestre Bimba, com nome de batismo Manoel dos Reis Machado, filho de Luiz Cândido Machado, descendente de bantos, e Maria Martinha do Bomfim, descendente de índios, foi um grande capoeirista que viveu entre 1899 e 1974. Bimba é o nome popular do órgão sexual masculino, e Manoel foi chamado assim desde o nascimento por causa de uma aposta entre sua mãe e sua parteira sobre seu sexo.
Ele foi o criador da Luta Regional Baiana, também conhecida como Capoeira Regional, que mescla elementos da Capoeira Angola e Batuque, uma luta popular de origem africana. Sua relação com a luta e dança vem de berço. Seu pai era conhecido como grande “batuqueiro” e campeão de “Batuque”. Aos 12 anos de idade, no entanto, ele foi iniciado na capoeira pelo Africano Bentinho. Aos 18 começou a ensinar a técnica que aprendeu em aulas ministradas no mesmo bairro que ele estudou, o Liberdade, composto por maioria negra.
Em 1929, Mestre Bimba motivado pela vontade de tornar a Capoeira mais acessível, desenvolveu o estilo mais rápido e com música, que juntou elementos da Capoeira Angola e Batuque. A prática da Capoeira era considerada ilegal e era duramente punida, caso fosse executada em espaços públicos. Alguns documentos expõem que uma das punições para quem fosse pego era ser amarrado a dois cavalos e arrastado até a delegacia mais próxima.
Em 1930, com a posse de Getúlio Vargas, houve uma mudança: a Capoeira poderia ser praticada, mas só em espaços fechados. Aproveitando a abertura, Mestre Bimba inaugurou em 1932 a primeira academia de Capoeira em Salvador. Assim, a Luta Regional Baiana, como ele denominou, promoveu diversas mudanças, entre elas a saída da prática do Código Penal. Anos mais tarde, o mesmo político declarou depois de uma apresentação que a capoeira era o único esporte verdadeiramente nacional e revogou a lei que criminalizava a prática.
Em 1937, Mestre Bimba obteve, na Secretaria de Educação, Saúde e Assistência pública, o registro de diretor de curso de Educação Física, que o levou a redefinir o seu local de treinamento como Centro de Cultura Física Regional, inserindo então a Capoeira Regional no campo do esporte.
“Houve um tempo em que a capoeira era tida como coisa de marginal, malandro e arruaceiro. Eu dediquei a minha vida toda a provar que esta visão era completamente errada.”, afirmou o Mestre em entrevista.
Ele desenvolveu métodos de estudo para a capoeira, além de rituais como Batizado, Formatura e Especialização, seguindo padrões sociais e acadêmicos de outros esportes. Também criou regras como nunca lutar ao som do berimbau, não beber ou fumar, praticar o fundamento todos os dias, entre outras.
Morte e legado
No ano de 1973, Mestre Bimba mudou-se para Goiânia. no ano seguinte faleceu em decorrência de um derrame cerebral. Um dos seus filhos, Mestre Formiga, afirmou em entrevista que Mestre Bimba morreu de banzo (tristeza) por não ter visto seu grande sonho se realizar: ver a capoeira respeitada como deve ser. Até hoje a Capoeira não compõe os grandes jogos mundiais.
No entanto, a sobrevivência, liberdade, profissionalização, metodologia e respeito da sociedade pela Capoeira, foram conquistas das lutas do Mestre e seus alunos. Hoje a Capoeira é praticada em mais de 160 países.
Em 12 de junho de 1992, a Universidade Federal da Bahia lhe concedeu o título de Doutor Honoris Causa.
No dia 10 de novembro, Mestre Bimba será um dos homenageados pela exposição “Pretas Potências” na estação República do metrô de São Paulo.
Assista a um documentário sobre o Mestre.