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Filhos Maravilha

De uma ponta à outra. Da várzea aos gramados. O País do Futebol é Preto

30 de junho de 2015

Texto: Pedro Borges

Impossível me marcar. Saio para os dois lados. Sou Canhoteiro e Jorge Mendonça. Mas sou muito mais. Sou o arranque de Edu Bala e a calma de Carlos Alberto Torres. Diria até que sou completo, perfeito. Sou a força de Andrade e a saída de jogo de César Sampaio.

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Mas sou todo o campo. Sou todo um país. Posso ser Cafú, ou Djalma Santos, ou até inverter a bola e me tornar Wladimir, ou Júnior. E quem disse que não sou defesa? Posso arrepiar tudo como Djalma Dias, ou chapelar atacantes como Luís Pereira.

Sou um inventor preto. Sou Leônidas da Silva, o Diamante Negro, e a sua novidade que deixou o mundo eufórico, a bicicleta. Sou também o pedalar, afinal, sou Robinho, o reizinho da Vila Belmiro. Quantos pedalam como eu? Muito poucos. Tanto quantos jogam com a minha alegria. Sou Denílson e não temo exércitos, nem gigantes.

E por ser preto, sou mais do que apenas verde e amarelo. Por isso, sou Rincon,  Asprila e muitos outros. Sou Hugo de Léon e Ramos Delgado. Sou também Arce, o incrível lateral paraguaio; como batia na bola!

É verdade. É impossível me marcar. Não tenho nem um humor fixo. Mudo repentinamente. Sou um elástico. Posso ser a alegria de Edílson e Vampeta, assim como a séria pretidão de Zé Roberto e Arouca.

Sou os 40 milhões de flamenguistas. Sou também o Vasco da Gama, o Gigante da Colina, primeiro grande clube brasileiro a se enegrecer. Sou o time do povo e a sua fiel torcida. Sou o Santos cujo nome poderia ser África Futebol Clube. Sou o Galo e as suas alucinantes viradas. Sou a dupla Ba-Vi, assim como o caldeirão da Ilha do Retiro.

E os outros? Aqueles que de início tentaram nos barrar, mas que depois clamaram por nós? O que seriam deles sem nós? Um mero papel em branco.

Não há dúvidas! Sou o maior! Se sofro do complexo de vira-latas, se tenho vergonha da minha cor; com a bola não posso ter. Europa, Hermanos, racistas, curvem-se! ou suas redes serão furadas pelos mil gols de Romário. Pior! Terão as colunas trincadas com os dribles de Garrincha! Ficarão boquiabertos com a alegria de Ronaldinho Gaúcho, do mesmo modo que verão mais uma volta por cima de Ronaldo, ou ainda o brilho da joia chamada Neymar. E se insistirem no erro e não se renderem, conhecerão o maior de todos; Pelé.

Como já disse, é impossível me marcar. E por isso, mesmo depois de citar gigantes, posso dizer que sou mais.

Sou a luta anti-racista que corre e dribla como Paulo César Caju. Sou a superação de um povo escravizado nos desarmes de qualquer ofensa racista no corpo do irmão Lilian Thuram. Sou a busca pela igualdade racial nas defesas de Barbosa e Aranha. Sou a memória dos mil gols de Arthur Friedenreich, lembrança que se tentou apagar com borrachas e pó branco.

Racistas, a bola é preta, assim como os melhores que já a dominaram. Expliquem a nossa inferioridade!

O futebol brasileiro é negro.  O negro brasileiro, porém, é mais do que o futebol. Em linhas tortas e em negrito, sou amado, afinal, sou um dos poucos lugares onde a negritude pode ser a melhor. É onde o negro pode superar o branco sem ser acusado de metido, ou sentir o peso do chicote bandeirante. Em campo, nas quadras, ou até nas ruas e favelas, é onde se encontra o oposto do que se vê nas universidades brasileiras, a pluralidade de cores deste país.

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