Texto: Pedro Borges / Edição de Imagem: Pedro Borges
Em 1942, no dia 17 de janeiro, na cidade de Louisville, no estado de Kentucky, nascia o maior atleta de todos os tempos, Cassius Marcellus Clay Jr.. Detentor de marcas e conquistas históricas, Muhammad Ali, nome que assumiu depois de se converter ao islamismo em 1967, está para além de números e estatísticas.
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Descrever o mito do boxe ultrapassa seu cartel de 56 vitórias, sendo 37 por nocaute, e somente 5 derrotas. A vida de Ali não se limita aos seus três títulos de campeão do boxe, 1964, 1974 e 1978. Para o narciso negro, nas palavras de Jorge Ben, é pouco vencer o jovem Jorge Foreman em uma luta épica no Zaire e recuperar o título de campeão em 1974, aos 32 anos de idade.
Ali é mais. E só é mais, porque é único.
A lenda, vencedora de uma medalha olímpica aos 18 anos de idade em Roma, em 1960, travou lutas maiores. Enfrentou adversários que poucos ousaram um dia combater. Os 32 anos de luta contra o Parkinson, um dos poucos golpes que atingiram o eterno campeão, também não conseguem dimensionar quem foi Ali.
O mundo talvez não saiba, mas um dos maiores seres humanos de todos os tempos nos deixou.
O atleta do século XX tem um lugar reservado ao lado de figuras como Nelson Mandela, Ângela Davis, Martin Luther King Jr, Malcolm X. Ali aceitou enfrentar a doença, mal, problema que ataca todos aqueles e aquelas que nascem com a sua fenotipia, cor de pele, cabelo: o racismo.
Ali consegue ser mais do que a recusa a defender os EUA na Guerra do Vietnã porque nunca um “vietnaminha o chamou de nigger” e mais do que ter sido um aliado de Malcolm X contra o racismo e pelos direitos do povo negro. Ali representa o orgulho e a autoestima de toda a população negra no mundo, seja em África ou nos países que constituem a diáspora africana, caso da América Latina e América do Norte.
O mito é o símbolo da resistência do povo negro mesmo diante das mais diversas pressões racistas. Foi o seu posicionamento político que fez o grande boxeador perder a licença para lutar, maneira encontrada pelos EUA para tentar silenciar e tirar os holofotes daquele combatente imbatível.
É exemplo de resistência, porque mesmo depois de tudo isso, recuperou o título de campeão do boxe e é reconhecido internacionalmente pela sua luta, história, inteligência e por seu carisma. Não há expressão melhor da força de Ali do que o ver ascender a tocha olímpica dos jogos de 1996, em Atlanta. Já com Parkinson, ele emocionou a todos quando apareceu no estádio e consigo trouxe a sua trajetória de superação.
O atleta do século XX rompeu um dos piores estigmas do racismo: de que o negro não pensa. Mais do que um lutador quase perfeito, Ali tinha posicionamento político e em suas entrevistas, sua inteligência mais do que reconhecida.
Com Ali, negras e negros de todo o mundo sempre souberam que “é possível chegar lá”. Num mundo em que toda a representação negra é negativa, vinculada à imagem do “criminoso”, “marginal”, “malandro”, “suspeito”, a figura de Muhammad Ali tem importância imensurável.
A notícia da sua morte traz tristeza. A sua história, esperança.
Obrigado, Muhammad Ali.