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É como se ressuscitasse um pouco dos nossos filhos”

18 de novembro de 2016

Texto: Pedro Borges / Fotos: Pedro Borges

É o que pensa Débora Maria da Silva, fundadora das Mães de Maio

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Na noite de 17 de Novembro, na sala dos estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, cerca de 500 pessoas participaram do evento de lançamento do livro “Mães em Luta: dez anos dos crimes de maio de 2006”. As centenas de militantes do movimento negro e de periferia acompanharam também o surgimento da campanha #BlackBraziliansMatter e participaram do ato em frente à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, em memória aos cinco jovens assassinados na zona leste da capital.

A fundadora do movimento Mães de Maio, Débora Maria da Silva, fez uma avaliação positiva de toda a noite. “Eu acho que a resistência de vocês faz o meu caminhar, eu me alimentar, porque não ficou só na morte do meu filho, ficou na morte de vários filhos de maio. Cada um cai, é como se caísse meu filho de novo. É torturador, é um sofrimento que nós temos dentro de nós, porque a gente se põe no lugar das mães. Então, quando a gente vê o lançamento de um livro desse, é como se ressuscitasse um pouco dos nossos filhos”.

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Milton Barbosa, fundador do Movimento Negro Unificado em 1978, também enalteceu a ato de resistência das Mães de Maio. “Eu achei que a atividade foi muito boa, tinha pessoas muito representativas, pessoas de luta. Acho que é uma atividade que vai se reproduzir por conta da presença das pessoas que vão trabalhar, passar para outras. Foi muito bom, muito interessante”.

Memória aos cinco jovens assassinados

Depois de toda a cerimônia, os manifestantes caminharam em direção à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. O protesto, marcado por velas e retratos em homenagem às vítimas do Estado brasileiro, foi uma denúncia ao genocídio do povo negro e periférico e um momento de memória aos cinco jovens assassinados na zona leste da cidade.

Jonathan Moreira Ferreira, 18 anos, César Augusto Gomes Silva, 20, Caique Henrique Machado Silva, 18, Jonas Ferreira Januário, 30, e Robson de Paula, 17, desapareceram em 21 de Outubro, após saírem de carro da zona leste da capital paulista para uma festa em Ribeirão Pires, Grande São Paulo.

Os jovens foram encontrados no dia 6 de Novembro, duas semanas depois de desaparecerem, em estado avançado de decomposição e com marcas de tortura. Um dos meninos estava decapitado. A Ponte Jornalismo apurou que, algumas das dez baladas encontradas na cena do crime, de munição .40, pertencem à Polícia Militar de São Paulo. O rastreamento foi feito pela própria Corregedoria, órgão fiscalizador da corporação.

A Ponte também revelou que policiais militares consultaram os dados de dois dos cinco jovens que foram encontrados mortos. Outro forte índico de participação da polícia na morte dos jovens é fruto de uma mensagem de Jonathan, antes de desaparecer. Ele enviou áudio para uma amiga dizendo que havia sido parado pela polícia. “Ei, tio. Acabo de tomar um enquadro ali. Os polícia tá me esculachando”, disse o jovem.

Débora recorda que a resistência diante do genocídio é histórica. Para ela, a união entre os movimentos sociais deve se estreitar para fazer frente diante do Estado. “A periferia, a favela é a senzala na nossa percepção porque é para onde eles nos jogam. E nós não temos direito à cidade, nós somos inimigos caçados como se fôssemos bandidos. Ser pobre não é crime, ser negro também não. A gente tem que resistir e esse exército que cada dia se multiplica do movimento Mães de Maio é um exército que veio para ficar e nós vamos sim continuar lutando porque a vitória é certa. Unidos somos mais fortes”.

Negros Brasileiros Importam

O evento de ontem também marcou a inauguração da campanha internacional #BlackBraziliansMatter (Negros Brasileiros Importam). Fruto de uma aproximação com o movimento negro norte-americano Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), a ação pretende trazer os olhares do mundo para a situação do negro no país.

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Milton Barbosa pensa que essa pode ser uma ferramenta importante no combate ao genocídio e na ação negra em todo o planeta. “Eu acho que é bom porque vai para o mundo. É aquilo que eu já falei, o negro no mundo está esperando o negro brasileiro. O brasileiro que não sabe. Nós preservamos muita coisa. Então o pessoal está esperando, não só os negros, os progressistas no mundo estão esperando as nossas ações aqui”.

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