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A escravidão e seus reflexos para a sociedade africana

10 de dezembro de 2015

Texto: Dagoberto Fonseca* / Ilustração: Vinicius Martins

Os estudos recentes sobre o processo de escravidão e o tráfico de grandes contingentes populacionais de africanos para diversas partes do mundo, demonstram que não houve uma escravidão, mas distintos processos de expropriação sistemática de um homem sobre outro e de uma sociedade sobre outras. É um equivoco considerarmos a escravidão como um processo social único e como um modelo exclusivo que atingiu a todos os africanos. Houve escravidões intensas e multiformes que atingiram o continente africano, conduzidas por alianças construídas comercialmente, mas principalmente a ferro (espada) e a fogo (pólvora), entre grupos autóctones e estrangeiros.

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Estas escravidões tiveram processos distintos, mesmo que consideremos a institucionalização desta prática sociocultural e econômica pelas autoridades assentadas nas Igrejas, Parlamentos, Coroas e Universidades da Europa ocidental.

As conseqüências trágicas do tráfico escravista foram imensas para o continente africano, como é sobejamente sabido. A conquista territorial européia, após as últimas décadas do século XIX, fez com que o negro africano, independente da posição que ocupara antes em seu grupo, conhecesse os valores negadores da sua existência enquanto indivíduo, sujeito de direitos e de ser soberano do seu destino. A imposição chegou ao ponto dos conceitos ideológicos adotados pelo colonialismo e pelo neocolonialismo atribuírem ao africano as marcas da inferioridade, da infantilidade e da incapacidade de gerir a própria existência social, política, econômica, cultural, mediados pela paz e não pelos conflitos antigos.

Os intelectuais do colonialismo e do neocolonialismo (séculos XIX e XX) não apenas dividiram a África, mas fragmentaram o africano e suas nações de modo complexo e contínuo. A imposição a milhões de pessoas de uma educação, política e economia, destruiu valores antigos e criou novas identidades coletivas, geradoras de negociações inéditas e de guerras intestinas impulsionadas pelo amor, pelo ódio e pela impotência de afastar o conquistador estrangeiro, geralmente branco.

*Prof. Dr. Dagoberto José Fonseca, docente da Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara, UNESP. Coordenador do Centro de Culturas e Línguas Africanas e da Diáspora Negra (CLADIN) e do Laboratório de Estudos Africanos, Afro-Brasileiros e da Diversidade (LEAD), Supervisor do Grupo de Trabalho do Núcleo Negro da UNESP para Pesquisa e Extensão (NUPE) da mesma faculdade.

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