Deputados estaduais estão insatisfeitos com a explicação dada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) à chacina ocorrida no último final de semana na cidade de Guarujá, na Baixada Santista. Segundo o chefe do poder executivo paulista, a Polícia Militar “deu um exemplo de profissionalismo” com os assassinatos ocorridos nos últimos dias. Nem o número exatos de mortos o Estado consegue confirmar.
De acordo com a Ouvidoria das Polícias Paulistas, 10 pessoas foram mortas durante a ação policial. Na versão do Governo de São Paulo, esse número cai para oito. Além desse conflito de informações, parlamentares alegam que Tarcísio ainda precisa explicar vários outros fatos ligados à chacina. “Buscamos ter acesso aos devidos esclarecimentos sobre o caso e sobre a responsabilização dos agentes de segurança pública envolvidos”, alega a deputada Paula Nunes, da Bancada Feminista do PSOL, em Requerimento de Informação protocolado nesta segunda-feira (31) no Ministério Público de São Paulo.
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Uma comissão formada por representantes da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), membros da Ouvidoria Nacional de Direitos e da Defensoria Pública irá até o Guarujá nesta semana para conversar com moradores e apurar possíveis abusos cometidos pela força policial. Há relatos de tortura e intimidação por parte do policiais nas comunidades onde houveram os crimes.
“O governador e o secretário de Segurança Pública afirmaram que essa operação vai prosseguir por mais 30 dias. Isso é um grande absurdo. É um política que busca causar um completo terrorismo nas comunidades. Estamos muito atentas a isso e pensando em formas de parar completamente com essa violência”, afirma Paula Nunes, que preside a Frente Parlamentar da Juventude Negra e Periférica da Alesp.
“É um absurdo que a polícia transforme comunidades em palco de guerra e com, ao que tudo indica, o aval do governador do Estado e do secretário de Segurança Pública. São cidadãos mortos pela ação da PM, por isso, queremos informações sobre essa operação e a responsabilização dos agentes públicos envolvidos e que esta violência acabe imediatamente”, pontua a co-deputada estadual.
Vingança
A chacina ocorreu depois que o soldado Patrick Reis e o cabo Martin participavam de operação de combate ao tráfico na região, quando Reis foi atingido na axila e Martin, na mão esquerda. Patrick Reis não resistiu aos ferimentos e faleceu. Desde então, a chamada Operação Escudo, para identificar os criminosos, foi desencadeada para encontrar os envolvidos no caso.
Em grupos de WhatsApp, foram repassados recados de que a polícia, em represalia à morte de Patrick Reis, mataria ao menos 30 pessoas na Vila Baiana e outras 30 nas comunidades da região. Os policiais assassinaram pessoas com passagens pela polícia e com tatuagens.
“Nós sabíamos que existiria alguma retaliação por parte da polícia depois do assassinato do policial da Rota. Mas o que houve não foi uma resposta, mas foi uma chacina, a primeira sob o comando do governador Tarcísio Freitas e do Guilherme Derriti à frente da secretaria de segurança pública”, enfatiza Paula. “Até agora não existe nenhuma explicação se as pessoas que foram mortas têm alguma ligação com a morte do PM envolvimento com tráfico de drogas”, complementa a parlamentar.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública diz “que todas as mortes em decorrência de ação policial são devidamente apuradas e esclarece que o número total é de oito indivíduos mortos em confronto. Em um único boletim de ocorrência, três policiais militares constam como vítimas, já que houve disparo por parte do criminoso. A SSP analisou o relatório da Ouvidoria da Polícia Militar, que apontou a morte de 10 suspeitos, e esclareceu ao órgão sobre o equívoco”.
Suspeito se entrega
Erickson David, conhecido como Deivinho, se entregou no domingo (30) na Corregedoria da PM, na Zona Sul da capital paulista. Ele nega ser o autor do disparo que matou o soldado da Rota. Acompanhado do advogado, ele diz ter procurado a polícia para provar sua inocência.
“Quero falar para o Tarcísio e o Derrite parar de fazer a matança aí, matando uma pá de gente inocente, querendo pegar minha família, sendo que eu não tenho nada a ver. Estão me acusando aí. É o seguinte vou me entregar, não tem nada a ver”, publicou Deivinho em um vídeo compartilhado nas redes sociais antes de apresentar à polícia.
Mesmo sem ter conseguido prender o suspeito, que só está detido porque se entregou, o secretário Derrite se vangloria pelo trabalho feito pelos seus subordinados. “Foi um trabalho fantástico de integração entre as polícias Civil e Militar, que deram uma pronta resposta ao crime. As primeiras 24h são fundamentais em qualquer crime”.
Derrite nega que tenha havido qualquer tipo de excesso cometido pelos seus policias durante o último final de semana. “São narrativas, depois que esse assassino foi preso vira bonzinho, coitadinho. Na verdade ele é o maior causador dessa tragédia que aconteceu na vida do soldado Rei. Essa versão de indivíduo que foi torturado não passa de narrativa para nós. Não chegou oficialmente nenhuma informação, indício, muito menos materialidade”.