Um funcionário público da Defensoria Pública do Estado de São Paulo foi alvo de ataques racistas durante o expediente de trabalho, ao retornar do horário de almoço, no centro da cidade.
O caso ocorreu na Defensoria, quando a agressora tirava dúvidas com o segurança da instituição. Allan César Dias tentou prestar auxílio a mulher, mas foi agredido com ofensas racistas. “Logo que fui falar com ela, ela me respondeu que eu não tinha autoridade para falar com ela, bem agressiva”, contou em entrevista à Alma Preta.
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O funcionário público relata que a mulher continuou os insultos, se referindo aos profissionais negros da Defensoria como “macacos”. “Ela gritava que não tinha medo de africano, que conhecia muito bem a minha raça”, descreve.
Agressora foi para delegacia de táxi, enquanto a vítima de racismo foi de viatura
O crime aconteceu no dia 17 de maio e a Polícia Militar foi chamada ao local. Allan também registrou um Boletim de Ocorrência.
Após a chegada dos policiais no local, a agressora se justificou dizendo que não era racista, pois “já tinhaq dado moradia e alimento a um negro” e visitado o continente africano, segundo o BO. O documento consta que a agressora disse “ninguém despeja vocês da Vai-Vai”, apontando para Allan.
A mulher teria ainda se recusado a ir para a delegacia dentro da viatura da polícia por causa do constrangimento. Os policiais então chamaram um táxi para levá-la. A vítima, por sua vez, foi levada no carro da polícia.
Em nota sobre o crime, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) diz que “o caso está sob investigação no 78º Distrito Policial (Jardins) por meio de inquérito”. A SSP também informa que a “equipe da unidade está empenhada em diligências para a completa elucidação dos fatos”.
Funcionário público relata dificuldade para registrar crime na delegacia
Allan conta ainda que teve dificuldade para registrar o crime no 78º Distrito Policial da Polícia Civil. Segundo a vítima, o delegado em serviço tentou convencê-lo a não fazer o boletim de ocorrência, pois no entendimento dele não houve racismo.
“Eu comecei a fazer meu depoimento e eu fui muito questionado. O delegado falou que isso não era racismo. Eu não imaginava ser questionado, imaginava ser acolhido”, comenta. “Ele disse que isso não era racismo, que era no máximo xenofobia. Disse que era filho de nordestinos e que por isso entendia bem do assunto”, complementa Allan.
Os momentos seguintes na delegacia foram testemunhados por Vânia e Eleonora, também funcionárias da Defensoria, que prestaram auxílio à vítima na delegacia. Ambas questionaram o motivo de a polícia não ter considerado o crime em flagrante, o que gerou uma discussão no local.
“Ele xingava muito, a todo momento, foi até intimidador” relata Vânia. As defensoras destacam a postura agressiva e truculenta do delegado em serviço.
Para Allan, a situação na delegacia foi uma agressão equivalente à agressão sofrida na Defensoria.
“Foi tudo muito pesado, a gente não imagina ter esse tratamento quando vai relatar um crime. Eu que fui a vítima, mas não parecia. Eu sofri um crime, fui no carro da polícia enquanto a agressora foi de táxi para a delegacia”, desabafa.
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