O Núcleo Agontimé, em parceria com o Coletivo Doulas Pretas, vai realizar a 5ª Formação de Doulas Negras do Brasil em Salvador (BA). A iniciativa, pioneira voltada para a saúde gestacional da população negra, foi criada com o intuito de combater o racismo no ambiente de parto.
Com a oferta de 26 vagas, o curso tem início previsto para 30 de maio no tradicional terreiro de candomblé Ilê Axé Togum. O projeto busca capacitar mais doulas negras para transformar o cenário do parto humanizado no país.
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Em entrevista à Alma Preta, a fundadora do Núcleo Agontimé e do Coletivo Doulas Pretas, Laura Afiba, denunciou os casos de violência obstétrica (caracterizada por práticas desumanas, negligência e abuso de poder durante o parto) que afetam principalmente as mulheres negras.
“A gente vive em um país onde a humanização ainda é muito escassa, e quando falamos da humanização que existe, ainda é muito insuficiente e inacessível para pessoas negras, para mulheres negras, para corpos negros parirem”, pontua a terapeuta em ginecologia natural.
“Então, além de ser um trabalho inacessível, a gente ainda encontra poucas doulas negras. A intenção é justamente trazer esse enegrecimento e visibilidade para mulheres pretas que atuam no cenário do parto, e, a partir do nosso trabalho enquanto profissionais da saúde, trazer informação — que é a principal arma que a população negra tem —, para as famílias que vão experienciar o gestar”, diz a ativista.
Primeira casa de parto para a população negra do Brasil
O projeto também reconhece a importância de criar espaços seguros e culturalmente sensíveis para gestantes negras, onde elas possam receber cuidados que respeitem sua identidade, história e necessidades únicas.
Um levantamento realizado pela Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente mostrou que mulheres pretas e pardas são as mais afetadas pelas mortes durante a gestação ou até 42 dias após o parto, representando 65% de todas as mortes maternas. Além disso, crianças negras têm 22,5% mais chances de morrer antes de completarem um ano em comparação com crianças brancas.
“É por isso que essa formação existe”, reforça Laura. “É uma política de enegrecimento da humanização do parto no Brasil, mas também uma política de combate ao genocídio que começa ali nas primeiras horas de vida de uma criança”, complementa a profissional.
A formação, que já capacitou mais de 200 doulas negras, tem um propósito ainda maior nesta edição: fundar a primeira casa de parto especializada nas especificidades da população negra do Brasil.
“Neste ano, a iniciativa da Agontimé tem como principal objetivo se tornar uma casa de parto afro referenciada. Uma casa de parto que compreenda as especificidades das nossas mulheres, dos corpos negros que vão nascer, que vão parir, e a necessidade da gente ter um espaço seguro de nascimento”, compartilha Afiba.
Para mais informações, acesse as redes oficiais do Núcleo Agontimé ou entre em contato pelo e-mail [email protected].