PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

O desmonte da cultura: desafios enfrentados por um ator negro e na terceira idade 

Fazer cultura é um ato de resistência, desmontá-la é mais uma estratégia que contribui para dificultar o combate a problemas que persistem contra as minorias em nossa sociedade
Mestre Ivamar, ator, pesquisador, griô quilombola e escritor.

Foto: Carlos Henrique de Souza

31 de maio de 2024

Por: Mestre Ivamar

A cultura brasileira vem sofrendo constantes ataques em detrimento de gestões conservadoras que atingem o poder há alguns anos. Um exemplo que confirma essa afirmação é o cancelamento do edital das oficinas culturais do estado de São Paulo, que significou o encerramento desse programa que atuava com êxito desde 1986. 

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

Até então a cidade de São Paulo contava com três oficinas culturais: Maestro Juan Serrano, na Brasilândia; Alfredo Volpi, em Itaquera; e Oswald de Andrade, no bairro do Bom Retiro. Todas estas já estão em processo de reformulação para o novo programa CultSP, que acabará por dar o golpe derradeiro na cultura do estado ao tirar de foco a difusão e reduzir os equipamentos culturais a uma cadeia de empreendimentos. 

Apesar desse problema chamar nossa atenção para um desmonte geral da cultura em São Paulo, ao olharmos para um plano mais amplo, podemos perceber que diversas regiões carecem de um aparato cultural público. Quanto mais distante de grandes centros urbanos, mais atrofiados são os sistemas de difusão da cultura.  Podemos tomar como exemplo a região Norte do país, que apresenta uma linda diversidade cultural, mas carece de meios eficientes para difundir culturalmente o território em si.

Voltando para São Paulo, o fato de que nem os funcionários e nem mesmo a organização social poiesis, responsável pela gestão das oficinas, foram consultados sobre o destino que seria dado ao programa acentua a ideia de que o verdadeiro intuito dessa mudança  é sim proporcionar um desmonte que ajuda a manter os valores pregados pela ideologia da extrema-direita, que não se preocupa em proporcionar um acesso mais amplo e equitativo aos espaços comuns.

Através de programas como os das oficinas, é proporcionada uma forma de expressão que pode e é utilizada para retratar problemas sociais vividos pelas comunidades e minorias, além de possibilitar o acesso amplo à cultura e às narrativas de diversos povos diferentes. Podemos tomar como exemplo o Coletivo Amazonizar, que utiliza os espaços da oficina Cultural Alfredo Volpi, na região da zona leste, para transmitir a cultura do povo quilombola do Amapá. Dessa forma, fica clara a necessidade de que se proporcione um acesso facilitado a esses programas, garantindo assim que a mensagem de vozes que são silenciadas em nossa sociedade possa ser amplificada. 

O fechamento das oficinas evidencia o sério problema que o preconceito por parte da direita representa para a cultura. Ao substituí-las por um novo programa que tira o foco principal da divulgação de eventos culturais, corremos o risco de retroceder em relação aos trabalhos importantes desenvolvidos pelas oficinas tanto na cidade de São Paulo quanto no interior. Fazer cultura é um ato de resistência e esse desmonte é mais uma estratégia que contribui para dificultar o combate a problemas que persistem contra as minorias em nossa sociedade.

Mestre Ivamar é ator, pesquisador, griô quilombola e escritor. Interpretou o personagem Popó na novela “Amor Perfeito”, da TV Globo. Além disso, é uma das principais referências da cultura quilombola no Brasil e fundou em 2016, ao lado do seu filho Felipe Melhor e Suane Brazão, o Coletivo Artístico Amazonizando, que fomenta as  tradições e narrativas amazônicas,  tendo a cultura do Marabaixo como sua maior expressão.

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

Leia Mais

PUBLICIDADE

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano