“Nunca havia me preocupado em votar desde que saí de Angola. Mas dessa vez é diferente, acredito que algo precisa mudar e quero fazer a minha parte”, ressalta o alfaiate Isaach Azekel, angolano que mora no Brasil há 14 anos, em entrevista à Alma Preta Jornalismo.
Nesta quinta-feira (24), cerca de 14 milhões de angolanos irão às urnas para as eleições gerais, que devem ser as mais concorridas desde o primeiro plebiscito realizado no país, em 1992. Pela primeira vez, os eleitores que não estão em Angola poderão participar das eleições de onde estiverem.
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Dados oficiais do governo de Angola afirmam que cerca de 400 mil angolanos vivem fora do país, mas apenas 22 mil se registraram para votar. A agência DW acredita que essa proporção pequena é um indicador de que as pessoas não acreditam que as eleições podem mudar as perspectivas do país africano.
“Eu acho que muitas pessoas realmente não acreditam que algo irá mudar, mas se não fizermos a nossa parte com a democracia, aí que não irá mudar mesmo. Eu acredito muito que Angola tem potencial, mas os angolanos espalhados pelo mundo também devem fazer o seu papel e acreditar também”, pondera o alfaiate.
Rivalidade já dura anos
O país, que esteve em guerra civil por 27 anos, possui a segunda maior população lusófona do mundo – estando somente atrás do Brasil, e está sob o domínio do Movimento Popular de Libertação da Angola (MPLA) desde a independência, em 1975. O presidente atual é João Lourenço, que tenta reeleição para um segundo mandato de 5 anos.
O conflito entre o MPLA e a oposição Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola), que durou desde 1975 até 2002, causou a morte de – em média – 500 mil angolanos. No entanto, a Unita nunca teve tanta popularidade quanto atualmente.
“Para mim a era MPLA já deu o que tinha que dar. Não que a Unita seja maravilhosa, mas é necessário renovar a política de Angola”, pontua Isaach Azekel. Uma pesquisa feita pelo Afrobarômetro mostra que a proporção de angolanos favoráveis à Unita aumentou de 13%, em 2019, para 22% até maio deste ano.
À agência DW, o analista político angolano, Cláudio Silva enfatiza que a juventude terá um papel importante nestas eleições.
“Cerca de 76% da população angolana tem menos de 30 anos. Não tem memórias de guerra e cresceu a ver os níveis de pobreza que mantivemos nos últimos 20 anos”, pontua.
Como um presidente é eleito em Angola?
O atual presidente João Lourenço foi escolhido pelo seu antecessor, José Eduardo dos Santos, que deixou o governo de Angola em 2017 depois de 40 anos no poder.
Já a Unita é liderada por Adalberto Costa Júnior, que está fazendo campanha entre os eleitores mais jovens, com promessas de empregos dignos e garantia de estabilidade em época de crise global.
Diferente do Brasil, os eleitores não escolhem diretamente o presidente, mas, sim, deputados em uma lista. O líder do partido que obtiver mais votos é escolhido como presidente.
Atualmente, a Assembleia Nacional de Angola tem 220 deputados. Desses, 130 são eleitos por uma lista nacional, e 90 são eleitos em listas regionais (são 18 províncias, e cada uma tem 5 deputados). Hoje, o MPLA tem 150 cadeiras na assembleia, e a Unita, 51. O restante dos lugares são ocupados por partidos menores.
Isaach avalia que mesmo que não haja renovação política em Angola, é importante que os eleitores que estão fora do país tenham acesso às informações e garantam o direito ao voto.
“A gente não sabe o que vai acontecer, mas precisamos lembrar que somos angolanos onde quer que moremos hoje em dia. Temos família lá, amigos, histórias e memórias. Então, que a gente possa fazer nossa parte com a democracia angolana, que custou muito a ser conquistada”, finaliza Isaach Azekel.
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