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‘Precisamos tomar de volta o poder para o povo preto’, diz Eliete Paraguassu, candidata à Câmara de Salvador

Candidata quilombola à vereança em Salvador, Eliete Paraguassu conta à Alma Preta sobre a sua luta em defesa do meio ambiente e dos direitos das comunidades tradicionais
Imagem de Eliete Paraguassu, candidata à vereadora pela cidade de Salvador, na Bahia, nas eleições municipais de 2024. Candidata conversou com a Alma Preta Jornalismo sobre as suas propostas para a capital do estado baiano, caso seja eleita.

Foto: Reprodução

3 de outubro de 2024

Faltando três dias para as eleições municipais de 2024, cidades de todo o Brasil se preparam para eleger novos vereadores e vereadoras que vão representar os interesses da população nos próximos anos. 

Em Salvador, Eliete Paraguassu (PSOL-BA), quilombola, marisqueira e pescadora da Ilha de Maré, tenta uma vaga na Câmara Municipal. Defensora dos direitos das comunidades tradicionais e do meio ambiente, ela integra o Movimento dos Pescadores e Pescadoras e a Coalizão Negra por Direitos.

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Com uma trajetória de mais de três décadas na luta pela preservação ambiental e pelos direitos das mulheres quilombolas, Eliete traz sua vivência como pescadora para a política. Em entrevista à Alma Preta, a candidata falou sobre os principais desafios que vê para a cidade de Salvador, as pautas de sua campanha e a importância da luta antirracista no ambiente político. Confira abaixo:

Alma Preta: Quais são os maiores desafios que a candidata enxerga na cidade de Salvador?

Eliete Paraguassu: Um dos principais desafios na cidade de Salvador, como candidata, é a violência política, a disputa desigual contra quem está no poder. E também a luta contra o racismo em todas as formas, na própria conjuntura política, ao entender que o atual prefeito tem a máquina e investimentos para fazer o que quer com a cidade. A disputa é desigual e árdua. Uma mulher negra, pescadora, quilombola que desafia o modelo que está posto, a forma como o capital tem se propagado na cidade de Salvador, de uma tamanha perversidade. A luta que a gente faz é uma luta diária para existir no território, para permanecer nas nossas comunidades. A campanha das águas desafia e enfrenta um Carlismo muito poderoso na cidade.

Alma Preta: Quais são as principais pautas da candidata?


Eliete Paraguassu: A pauta da Candidatura das Águas é pelo Bem Viver. É uma pauta ambientalista que dialoga com a cultura tradicional, pesqueira e quilombola, que fala sobre saneamento básico e justiças sociais. Trata-se de uma luta por uma vida mais digna na cidade de Salvador, por uma sociedade menos adoecida, com trabalho digno. Mas, acima de tudo, é uma campanha para combater a fome, as injustiças sociais, a violência e a degradação ambiental.

Alma Preta: Como a vereança pode auxiliar na luta contra o racismo?

Eliete Paraguassu: Penso que a principal fonte de combate ao racismo é denunciá-lo e construir políticas públicas que deem conta e que fiscalizem as atuações irregulares das empresas, da própria ação municipal. Construir projetos de lei de combate ao racismo pensando na perspectiva do Bem Viver, construir projetos para o desenvolvimento dos territórios. Precisamos construir iniciativas populares, como conselhos municipais, onde as populações tradicionais participem do processo de decisão, né?  

A gente precisa também construir e fiscalizar as construções irregulares que têm no município, a partir da própria atuação do prefeito, que vem aí com a mão pesada vendendo o meio ambiente. Fazendo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente do município e a gestão um balcão de negociação do grande capital. São pautas que a gente vai construindo a partir das escutas territoriais, mas também a partir da convenção 169, que já existe que é signatária e que a gente precisa respeitar. Partir do princípio de ser rigorosa com a fiscalização das fontes poluentes.

Alma Preta: As Câmaras brasileiras são amplamente de direita. Como é possível agir nesse ambiente para garantir o avanço de propostas antirracistas?


Eliete Paraguassu: Eu coloco meu corpo nessa tarefa para dizer que é possível, sim, a gente ter uma vereadora antirracista na Câmara de Vereadores da cidade de Salvador, que a maioria é branca, hétero, de homens racistas, de homens homofóbicos. Que  roubou a cidade de Salvador a partir da Câmara, tem negociado a cidade de Salvador em nome do capital e virou a casa familiar dessas pessoas. E a gente precisa combater isso. 

Eu acho que colocar as candidaturas negras antirracistas na Câmara Municipal de Salvador é um avanço muito grande. E um avanço maior é tomá-la de volta, tomar esse espaço de decisão e de poder para os pretos. A gente é 83% nessa cidade. Não é justo a gente sendo a maioria e os brancos ainda hoje, em 524 anos, ainda governam essa cidade, ainda oprimem, ainda humilham, constroem projetos de destruição em massa do meio ambiente, das pessoas. 

O saneamento básico é uma forma bem conciliada entre eles para matar a sociedade preta. A Câmara Municipal de Salvador tem colocado os nossos territórios como a zona de sacrifício, mas também esse mesmo território que eles consideram como a zona de sacrifício, eles querem roubar para implementar grandes empreendimentos, especulação imobiliária, privatizar as ilhas, roubar as nossas praias, roubar o nosso Bem Viver em nome da ganância. 

Então a candidatura antirracista de mulheres pretas na cidade de Salvador e de homens pretos, ela vem com essa perspectiva da transformação, do chamado das águas, vem na pegada de transformar cidade de Salvador. Por uma cidade mais justa, uma cidade do Bem Viver.

  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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