A atriz Zezé Motta se tornou a primeira artista a receber o título de Doutora Honoris Causa pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a maior honraria concedida pela instituição. A decisão de premiar a artista no auditório do Museu da Vida Fiocruz foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Deliberativo.
“Sempre digo que é muito importante o reconhecimento das coisas boas que você realiza, porque é um incentivo para que você continue lutando pelo que acredita”, afirmou Zezé, ao receber o diploma.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
“Minha carreira foi marcada pela busca da representatividade e pelo combate ao preconceito. Hoje, recebendo esse título, sinto que a minha trajetória se entrelaça à de todos que lutam por justiça e igualdade”, completou a atriz.
O presidente da Fiocruz, Márcio Moreira, afirmou que o título busca reconhecer o trabalho de pessoas que contribuíram para a melhoria da humanidade e do país.
“Entendemos que a expressão científica também se dá pela cultura e pelas artes, mas, para além disso, Zezé encarna a luta do nosso cotidiano por um país menos desigual. Essa é uma luta da Fiocruz, porque é uma luta da sociedade brasileira”, enfatizou.
Nascida em Campos dos Goytacazes, no norte do Rio de Janeiro, Zezé Motta chegou a trabalhar como operária na indústria farmacêutica antes de estrear, em 1967, na peça “Roda Viva”, de Chico Buarque. Desde então, foram 13 peças de teatro e mais de dez discos, sendo o mais recente Pérolas negras (2024), no qual divide os vocais com Alaíde Costa e Eliana Pittman.
O destaque maior veio em 1976, quando protagonizou Xica da Silva no filme dirigido por Cacá Diegues. Ao longo da carreira, a atriz atuou em mais de 45 produções na televisão, como a antológica Beto Rockefeller (1968), que projetou um novo modo de fazer telenovela no Brasil.
Zezé também participou de mais de 60 filmes, entre eles, clássicos como “Vai Trabalhar, Vagabundo” (1973), de Hugo Carvana. Em 2022, venceu o Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme Doutor Gama. A premiação já a havia homenageado em 2019 por sua contribuição à cultura nacional. A bem-sucedida carreira também lhe rendeu um Troféu Oscarito, do Festival de Gramado, pelo conjunto de sua obra, em 2007.
Outro destaque da cerimônia foi a luta antirracista da atriz. Além dos palcos, Zezé colaborou com a criação do Movimento Negro Unificado (MNU), na década de 1970, e fundou o Centro de Informação e Documentação Artista Negro (Cidan), em 1984.
“Ser uma mulher preta no Brasil é, por si só, um marco diário. Mas ser uma mulher preta que conseguiu se firmar no cenário artístico, desafiando estereótipos e conquistando espaços é uma vitória que carrego comigo e com todas as mulheres pretas que vieram antes e as que ainda vivem agora”, disse Zezé durante o recebimento da honraria.