O escritor, dramaturgo e slammer baiano Jordan, conhecido por sua atuação nas batalhas de poesia em São Paulo, lança nesta quarta-feira (20) o seu livro “Coisa Feita – Dois Preto Apaixonado na Cama”. Premiada em 2023 com o Prêmio Caio Fernando Abreu, a obra é uma coletânea de poesias que navegam por períodos distintos da história brasileira, unidas por um tema central: a vivência homoafetiva entre homens pretos.
“Escrever este livro foi atender pedidos”, diz Jordan, que cresceu em Camaçari, região metropolitana de Salvador, mas hoje vive na capital paulista. “Não é apenas um depoimento meu, mas um retrato de histórias e sonhos de diversos homens pretos e gays”.
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A obra será lançada no dia 20 de novembro, às 16h, no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, como parte do Festival Mix. O evento contará com uma performance de spoken word do autor e um bate-papo com o rapper queer Rico Dalasam, também uma referência de representatividade negra e LGBTQIAPN+.
O livro e suas camadas de temporalidade
Em conversa com a Alma Preta, Jordan descreve a origem do livro. “Sou poeta de slam há dois anos. Comecei escrevendo poesias que chamo de ‘homoafroeróticas’ — poesias de um homem preto para outro homem preto. Juntei todas essas poesias, montei um livro e mandei no ano passado para o prêmio Caio Fernando Abreu. Fui vencedor do prêmio e o livro foi publicado como o resultado do prêmio, pela Editora Reformatório”.
A coletânea aborda a sexualidade e o erotismo a partir de múltiplos cenários históricos. Há poemas ambientados no pós-abolição, refletindo sobre a vivência homoafetiva em um contexto de liberdade incompleta, onde corpos pretos eram duplamente marginalizados. Outros textos exploram a opressão durante a ditadura militar, evocando histórias como as de homens internados compulsoriamente por sua sexualidade. Há também olhares para o presente e especulações sobre um futuro mais acolhedor.
“Mesmo em tempos mais confortáveis, ser gay e preto ainda é uma intersecção delicada“, pontua Jordan. “Não é tão fácil quanto poderia ser, mas certamente é mais fácil do que foi no passado. É por isso que minhas poesias também falam de como podemos imaginar novas formas de afeto e autocuidado”.
Afetividade como resistência
Uma das principais mensagens de Coisa Feita é a celebração do afeto como ferramenta revolucionária. Para Jordan, a troca afetiva entre homens pretos é uma forma de quilombo moderno. “O afeto gera identificação, reconhecimento. Ele melhora nossa autoestima, traz conforto e nos permite imaginar novas formas de existir para além da objetificação”.
O autor também reflete sobre como essas conexões podem ser um ponto de partida para reconstruir a relação dos corpos pretos com o erotismo, que frequentemente é hipersexualizado ou invisibilizado. Em Coisa Feita, o erotismo é tratado com sensibilidade e potência, buscando abrir novos caminhos de compreensão e vivência.
“Ver esse livro publicado é mais do que uma conquista pessoal. É uma chance de contar histórias que sempre existiram, mas que raramente foram contadas”, conclui Jordan.
Serviço
Lançamento do livro “Coisa Feita – Dois Preto Apaixonado na Cama”
Quando: 20 de novembro (quarta-feira)
Horário: às 16h
Onde: Museu da Imagem e do Som – Av. Europa, 158 – Jardim Europa, São Paulo (SP)