Na quarta-feira (27), mulheres, idosos e crianças indígenas foram alvos de violência policial durante um protesto na aldeia Jaquapiru, que integra a Reserva Indígena de Dourados, no Mato Grosso do Sul. Os agentes da Tropa de Choque da Polícia Militar agrediram a população com tiros de bala de borracha e bombas.
A mobilização ocupava a rodovia MS-156, que atravessa a reserva de ponta a ponta, e denunciava a falta de água que assola a região. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), ao menos 20 indígenas foram feridos na ação e dois foram presos.
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Em entrevista à Alma Preta, uma testemunha que presenciou o momento das agressões conta que o protesto iniciou de modo pacífico na segunda-feira (25) e que a violência empregada foi desnecessária.
“Eles entraram que nem trator para cima da gente. Entraram dentro da nossa comunidade, desceram do veículo já atirando e jogando bombas. Nossas lideranças foram avisadas que iriam chamar reforços com cachorro, caminhões e mais policiais”, conta a testemunha.
A testemunha ainda explica que os moradores da aldeia seguem com medo de uma segunda ação. Mesmo com a investida da PM, muitos seguem no local em protesto contra o desabastecimento.
“Era o último recurso que queríamos, mas foi a única forma de sermos ouvidos. Nós fomos para a rodovia, mas em nenhum momento teve agressão, até mesmo porque tinha crianças. Mandaram algumas mensagens sobre quando viria o poço [de abastecimento] e como ficaria a comunidade, mas não foi feito nenhum comunicado oficial. Nossa aldeia é muito grande e o que o estado tinha prometido era inviável para a demanda. Então,o pessoal decidiu continuar o protesto”, expõe a testemunha.
Alguns policiais teriam voltado ao local pela noite e dispersado bombas de efeito moral nos indígenas que permaneceram acampados. Aflita, a testemunha acredita que a situação possa piorar caso não se tenha resposta concreta em relação à escassez hídrica.
“Se a gente não tiver uma resposta concreta, eu acredito que vai ter mortes. Tem muita gente decidida a permanecer ali e pelo que nós ficamos sabendo, os reforços policiais já estão chegando próximo de novo. Tá uma situação tensa”, considera.
A falta de água já havia sido registrada nos órgão competentes à distribuição de água em terras indígenas, como a Secretaria de Saúde Indígena (SESAI) antes da comunidade ocupar a rodovia, mas não houve resposta efetiva quando as providências. Segundo a testemunha, a aldeia que possui mais de 3 mil indígenas já passou meses consecutivos sem água.
A Alma Preta questionou a Secretária de Estado de Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso do Sul sobre a ação violenta da Polícia Militar. Até a publicação deste texto a pasta não se manifestou. O espaço segue aberto.