Guilherme Alves, de 18 anos, foi morto com 27 disparos de fuzil por agentes do 13ª Batalhão de Ações Especiais da Polícia (BAEP), em Bauru (SP), em 17 de outubro. Na sexta-feira seguinte à execução, o velório da vítima foi invadido por policiais militares, que agrediram e prenderam familiares enlutados. A atuação dos PMs foi registrada pelos presentes e ganhou repercussão nacional.
O caso, na época denunciado pela Alma Preta, continua longe de um desfecho.
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Dois meses após os abusos, os familiares do jovem executado continuam a ser alvos de represálias. Os parentes de Guilherme buscam a responsabilização de todos os envolvidos, mas enfrentam intimidação dos agentes.
O advogado da família, Ariel Castro, ex-secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania, explica que os recentes fatos envolvendo a família demonstram a certeza de impunidade dos policiais militares em São Paulo.
Castro relata que dois irmãos de Guilherme são frequentemente alvos de abordagens constrangedora. Além da truculência e abuso de poder, a mãe Nilceia teria sido chamada de “vagabunda” por um PM, em uma das ocasiões.
A queixa foi registrada na Corregedoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMSP), em dezembro. O documento, ao qual a reportagem obteve acesso, foi assinado pela 1ª Tenente PM Julie Sabrina Tavares Nunes.
O depoimento, de cerca de duas horas, aponta que os policiais impediram a manifestação dos familiares e moradores da comunidade, queimando constantemente as faixas que pedem por justiça para Guilherme.
“Eles matam, invadem velórios e depois perseguem e intimidam os familiares das vítimas que estão buscando justiça. Essas retaliações aos familiares em Bauru e os casos cotidianos de violência policial no estado de São Paulo, demonstram que policiais militares receberam uma verdadeira “licença” pra cometerem abusos, torturas e assassinatos”, diz o advogado.
Declarações de governantes incentivam violência policial
Para Castro a truculência e as constantes retaliações de PMs são incentivadas pelas declarações públicas do atual secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, e do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
“Derrite, como secretário, além de apoiar todas as ações violentas da PM na baixada santista, já declarou, em 2015, que ‘policial bom tem que ter pelo menos três homicídios no currículo’. Já Tarcísio, desdenhou de denúncias de violência policial feitas por entidades de direitos humanos para a ONU, dizendo ‘Pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta, que não tô nem aí’”, completa.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) alega ter recebido a denúncia acerca da retaliação e diz que o caso é investigado. O órgão informou que os quatro policiais militares envolvidos nas intimidações já foram afastados de seus cargos.