A fome se espalhou pelo Sudão e deve se expandir ainda mais. Os campos de refugiados e as comunidades deslocadas no país em guerra serão atingidas de forma ainda mais dura. A avaliação é de um relatório da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), utilizada nas agências da Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo o documento do IPC a fome se espalhou por mais dois campos para pessoas deslocados no oeste do país e em partes do sul.
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O Sudão sofre há 20 meses com os combates entre o Exército Sudanês e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido, liderada por generais rivais. A situação acarretou uma crise humanitária.
A guerra desde abril de 2023 matou dezenas de milhares de pessoas e desalojou 12 milhões, criando o que as ONU descreve como a maior crise de deslocamento do mundo. Segundo o relatório do IPC 638 mil pessoas enfrentam níveis catastróficos de fome, com mais 8,1 milhões à beira da fome.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou alarme com a situação, reiterando em comunicado “seu apelo para que as partes facilitem o acesso rápido, seguro, desimpedido e sustentado para que a assistência humanitária e equipes possam chegar às pessoas necessitadas”. Guterres também pediu um cessar-fogo na região.
O IPC constatou que havia fome em três campos no norte da região de Darfur — incluindo Zamzam, onde a situação de fome já havia sido declarada em agosto — e entre os residentes e comunidades deslocadas nas montanhas Nuba, na região sul de Kordofan.
Entre dezembro e maio, o IPC afirmou que 24,6 milhões de pessoas, representando cerca de metade da população do Sudão, deverão enfrentar “altos níveis de insegurança alimentar aguda”.
O relatório afirma que isso “marca um aprofundamento e uma ampliação sem precedentes da crise alimentar e nutricional”.
De acordo com o Programa Mundial de Alimentos da ONU (WFP, na sigla em inglês), algumas áreas de “conflito intenso”, incluindo partes da capital Cartum e o estado central de Al-Jazira, “podem já estar passando por condições de fome”, mas a falta de acesso aos dados impediu uma classificação oficial.
‘Fome prolongada’
O IPC disse em seu relatório que outras 17 áreas no Sudão central e ocidental estavam em risco de fome. Segundo a organização, até maio de 2025 a fome provavelmente se espalhará para mais cinco partes da região de Darfur do Norte, que tem sido palco de alguns dos combates mais intensos da guerra.
Em outubro, especialistas da ONU acusaram os dois lados do conflito em curso no Sudão de usar “táticas de fome” contra os civis.
As agências de ajuda humanitária afirmam que o governo alinhado ao Exército colocou obstáculos burocráticos ao seu trabalho, utilizando a legitimidade internacional como autoridade governamental para fechar os principais pontos de acesso à ajuda.
Apenas dois comboios da ONU foram autorizados a chegar ao campo de Zamzam desde que a fome foi declarada no local, enquanto a capital do estado de Darfur do Norte, El-Fasher, que fica nas proximidades, está sob cerco imposto pelas forças paramilitares.
Além de Zamzam, o IPC disse que a fome se espalhou por dois outros campos em Darfur do Norte, Abu Shouk e Al Salam.
Quase toda a região ocidental de Darfur está agora sob controle das Forças de Apoio Rápido, que também tomaram conta de áreas de Kordofan e do centro do Sudão. Já o Exército controla o norte e o leste do país.
Texto com informações da AFP.