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Grafiteiro é morto a tiros por PMs após abordagem policial em Sorocaba

Em entrevista à Alma Preta, mãe da vítima relata ter tido dificuldades para retificar inconformidades registrada pelos policiais no BO
O grafiteiro Reginaldo Antônio Ferreira Jr, conhecido como África, mandou um áudio para sua esposa momentos antes de ser morto.

Foto: Reprodução / PMSP

10 de janeiro de 2025

Na cidade de Sorocaba, interior do de São Paulo, um homem foi morto com ao menos cinco tiros disparos por agentes da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMSP). A vítima, Reginaldo Antônio Ferreira Jr, de 33 anos, estava de férias com a família quando morreu, no último domingo (5).

Em entrevista à Alma Preta, Cássia Cristina Oliveira de Rezende, mãe da vítima, conta que o filho havia saído de noite para grafitar na companhia de um amigo. África, como era conhecido entre os amigos, teria saído com o celular, documentos e chaves de um carro. 

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Cássia revela que ao serem abordados pelos PMs, assustados, os amigos fugiram de carro  e foram perseguidos por viaturas. Neste momento, a vítima teria mandado uma mensagem para sua esposa, avisando que seria abordado pela polícia. 

“Oi vida. Eu tava no rolê com o moleque aqui e deu ruim, nois tá dando fuga, vida [SIC]”, diz Reginaldo, em meio ao som de sirenes. 

A mãe afirma que em dado momento, África teria saído do carro em direção à algum lugar, mas  foi atingido pelos disparos. 

“Meu filho estava de carona no carro. Entraram no carro e deram fuga”, diz a mãe da vítima. “A polícia estava perseguindo e acho que chamou reforços. No que ele saiu correndo, a testemunha fala que foram segundos e já foi alvejado. Ele não teve tempo de entrar na mata”, acrescenta.

Segundo Cássia, o documento e o celular da vítima não foram encontrados após o crime. A mãe reforça que África não tinha envolvimento com atividades ilegais ou portava algo que motivasse a abordagem fatal. Além de artista urbano, a vítima era pintor, pedreiro e tinha três filhos crianças. 

“Eu sei que ele saiu daqui sem arma nenhuma, eu sei que ele não tinha arma […] Ele nunca matou, nunca roubou, isso aí a polícia já viu, sabe que não tem nada disso”, diz Cássia.

Boletim de Ocorrência foi registrado com a versão dos PMS

De acordo com a mãe da vítima, o Boletim de Ocorrência foi registrado sem a participação dos familiares ou a adição dos documentos de saída da Unidade Pré-Hospitalar da Zona Norte de Sorocaba, local para onde a vítima foi encaminhada. Uma nova versão só foi realizada após a interferência da Polícia Civil, retificando as inconsistências na versão declarada pelos PMs. 

“Eu só consegui fazer ele [o BO] na quarta-feira (8). Eu até tentei, porque eu queria comunicar que o registro estava errado, ele teve todos os pertences roubados. Queria saber o porquê dele estar sem identificação, do celular dele ter sumido. Ele estava com o celular na cena do crime. E foi a maior burocracia, de delegacia em delegacia, e não queriam registrar de jeito nenhum”, informa Cássia.

O BO com a versão policial, ao qual a Alma Preta teve acesso, foi iniciado no dia 5 de janeiro e finalizado no dia 8 do mesmo mês, três dias após o ocorrido. O registro alega que o homem não estava com documentos de identificação no momento da abordagem. A corporação acusa a vítima de ter disparado previamente contra os agentes, fato contestado pelos familiares.

No BO, consta a apreensão de uma pistola Taurus 380mm, de numeração suprimida, com sete munições, das quais apenas uma teria sido disparada (descrita no documento como “picotada”). Além da arma, o boletim também aponta para a apreensão de uma lata de tinta vazia, uma garrafa pet com tinta, um corante, uma lata de spray e dois pincéis. 

O documento de evolução hospitalar emitido pela Unidade Pré-Hospitalar da Zona Norte do Município, local para onde a vítima foi encaminhada, consta que África morreu com perfurações na testa, do lado direito; na parte frontal do pescoço, no lado esquerdo da nádega direita, parte superior da coxa esquerda e nas costas, perto da omoplata.

A reportagem questionou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) sobre a motivação da abordagem policial e a situação dos PMs Alessandro Ferreira, Rafael Cheles e Giuliano Tomazini, envolvidos na atuação, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.

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  • Verônica Serpa

    Graduanda de Jornalismo pela UNESP e caiçara do litoral norte de SP. Acredito na comunicação como forma de emancipação para populações tradicionais e marginalizadas. Apaixonada por fotografia, gastronomia e hip-hop.

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