A ONG Oxfam denunciou em um relatório nesta segunda-feira (20) o impacto da crescente concentração de riqueza global. Enquanto a riqueza dos bilionários alcança níveis recordes, o número de pessoas vivendo na pobreza extrema permanece quase inalterado desde 1990.
A análise intitulada “As custas de quem?“, lançada às vésperas do Fórum Econômico Mundial de Davos, critica o legado de exploração colonial e aponta uma perigosa “oligarquia bilionária” que ameaça a democracia global.
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De acordo com o documento, o número de bilionários subiu de 2.565, em 2023, para 2.769 em 2024, enquanto suas fortunas combinadas saltaram de US$ 13 trilhões (R$ 78.9 trilhões) para US$ 15 trilhões (R$ 91.1 trilhões) em apenas um ano.
A riqueza acumulada pelos dez indivíduos mais ricos do mundo cresceu, em média, quase US$ 100 milhões (R$ 607 milhões) por dia. Mesmo com uma perda hipotética de 99% de suas riquezas, esses homens ainda permaneceriam bilionários.
A desigualdade não se limita aos números. A Oxfam ressalta que grande parte da riqueza bilionária é imerecida: cerca de 60% provém de herança, monopólios ou conexões com poderosos. Muitos dos super-ricos têm suas fortunas enraizadas no colonialismo e na exploração. Um exemplo citado é o bilionário francês Vincent Bolloré, cuja fortuna foi parcialmente construída por atividades coloniais na África.
O legado colonial e a desigualdade global
O relatório ressalta que a história do império, do racismo e da exploração deixou marcas profundas. Países do Sul Global continuam a ser prejudicados por um sistema econômico que privilegia os mais ricos das nações desenvolvidas.
Hoje, os salários no Sul Global são de até 95% mais baixos do que os pagos por trabalho equivalente no Norte Global. Além disso, a expectativa de vida média na África é 15 anos menor do que na Europa.
O colonialismo moderno também perpetua essas desigualdades. Grandes quantias continuam a fluir de países de baixa e média renda para o Norte Global, perpetuando o enriquecimento das elites em detrimento das populações mais pobres.
A desigualdade atinge especialmente mulheres e trabalhadores migrantes. Globalmente, as mulheres ocupam, em maior número, empregos vulneráveis e informais. Trabalhadores migrantes em países ricos recebem, em média, 13% a menos que cidadãos locais — uma disparidade que aumenta para 21% no caso de mulheres migrantes.
Impacto na democracia e apelo à ação
A Oxfam aponta que o poder acumulado pelos bilionários vai além da economia, influenciando indústrias, governos e a opinião pública. Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional, alertou que a atual concentração de riqueza é “uma afronta à justiça” e cria uma nova aristocracia onde riqueza e poder permanecem nas mãos de poucos.
“Os super-ricos gostam de nos dizer que ficar rico exige habilidade, determinação e trabalho árduo. Mas a verdade é que a maioria da riqueza é tomada, não criada. Muitos dos chamados ‘autodidatas’ na verdade são herdeiros de vastas fortunas, passadas por gerações de privilégio imerecido“, disse Behar em nota de divulgação do estudo.
Além disso, a ONG denuncia que bilhões de dólares não tributados em heranças e lucros de grandes corporações poderiam ser direcionados para serviços essenciais, como saúde, educação e criação de empregos.
Para combater a desigualdade extrema, a Oxfam propõe ações urgentes, como a tributação mais rigorosa sobre os super-ricos para reduzir a riqueza extrema, políticas que eliminem o fluxo de riquezas do Sul Global para o Norte Global e investimentos em serviços públicos essenciais para beneficiar as populações mais pobres.