Há 39 anos, no dia 31 de janeiro de 1986, o governo federal decretou o tombamento da Serra da Barriga, na Zona da Mata do estado de Alagoas. Durante o século XVII, a região abrigou o maior polo de resistência da diáspora africana no país: o Quilombo dos Palmares.
Formado por homens e mulheres negras que conseguiram fugir da exploração escravista, Palmares tinha como principal mocambo a Serra da Barriga, à época conhecida como Quilombo dos Macacos ou Cerca Real dos Macacos.
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O território, que serviu de refúgio para os ex-escravizados, foi a materialização da possibilidade de uma sociedade alternativa ao sistema colonial, pautada na liberdade e no resgate de hábitos religiosos e culturais de África.
De lá surgiram líderes que hoje são reconhecidos como heróis, como Zumbi dos Palmares, Dandara, Aqualtune, e Ganga Zumba.
Além de abrigo, o espaço também foi uma forte organização social e política, com lideranças estruturadas em conselhos, sistemas de defesa e trocas multiculturais com as comunidades indígenas que viviam e resistiam junto aos quilombolas.
Palmares foi destruída após ser invadida pelas tropas portuguesas em fevereiro de 1694. Mesmo resistindo por diversas investidas, negros e indígenas foram brutalmente massacrados em um dos mais sangrentos episódios da história nacional.
Séculos após a destituição de Palmares, já no período democrático do país, a Serra da Barriga teve sua importância histórica reconhecida pelos títulos de Patrimônio Cultural Brasileiro, conquistado em 1986, e o de Patrimônio Cultural do Mercosul, em 2017.
Estas conquistas também foram frutos da articulação da comunidade negra. Na época, a salvaguarda do território foi defendida por grandes personalidades, como Mãe Neide de Oyá d’Oxum, ativista local responsável pelos cuidados com o sagrado do Parque, e os intelectuais Abdias do Nascimento e Lélia Gonzales.
A Serra da Barriga é uma demonstração clara das falhas na narrativa colonizadora, que tentou imputar aos negros escravizados uma passividade inexistente quanto as violências sofridas.
Além de representar uma história fundadora de territórios e memórias sociais coletivas, hoje o local é um templo de reconexão com a ancestralidade negra, recebendo inúmeras cerimônias de religiões de matriz africana ao longo dos anos.