A trilogia performativa “A-sombra-ação”, desenvolvida pelos alunos de Interpretação Teatral da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA), será apresentada no dia 7 de fevereiro, às 18h, como um ato de protesto contra o abandono prolongado do prédio da escola, localizado no bairro do Canela, em Salvador.
A performance surge como resposta à invisibilização e aos desafios enfrentados pela comunidade artística local, reflexo do descaso com o espaço cultural.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Criada coletivamente na disciplina Rito e Performance, a obra utiliza a Performance Art como meio de denúncia e resistência, ressaltando o impacto da falta de território para a expressão e o ensino das artes cênicas. Inspirados na obra “Fantasmagorías Brxsil”, de Padmateo, e em trabalhos como “Madresmorta”, de Marcinha Baobá, os estudantes exploram uma poética espectral para dar voz às dores e indignações da comunidade teatral.
Estrutura da trilogia
A- O primeiro momento reúne experimentos de som, máscaras e expressão corporal, apresentados nos arredores do casarão da Escola de Teatro. Com performances artísticas, os alunos denunciam o abandono do prédio e a precarização do ensino.
Sombra- Na segunda etapa, o grupo apresenta uma instalação composta por projeções de vídeo-performance, luzes e poemas sonorizados. As projeções sobre tecidos brancos cercam simbolicamente o prédio abandonado, evocando sombras que ecoam o sofrimento e a resistência da comunidade teatral.
Ação! Encerrando a trilogia, a última parte será realizada no dia 14 de fevereiro de 2025, às 17h, em frente ao prédio da Reitoria da UFBA. Inspirada na estética do lambe-lambe, a ação combina colagens fotográficas de edifícios abandonados na universidade com frases impactantes, destacando a urgência da revitalização dos espaços.
De acordo com os alunos, “A-sombra-ação” transcende a condição de protesto: é um grito artístico e coletivo, convocando a sociedade a refletir sobre o abandono do patrimônio público e a invisibilidade imposta aos artistas em formação. Mesmo sem um espaço físico digno, os estudantes reafirmam a presença e a força transformadora da arte.
Obra interrompida na Escola de Teatro
Fundada em 1956 pelo então reitor Edgard Santos, a Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA) é a primeira instituição de ensino superior dedicada ao teatro no Brasil e na América Latina. Desde sua criação, desempenha um papel fundamental na formação de profissionais das artes cênicas e na valorização da cultura teatral no país.
Sob a direção inicial de Eros Martim Gonçalves, a escola foi instalada no Solar Santo Antônio, um espaço de arquitetura histórica e exuberante área verde, adaptado ao longo dos anos para atender às necessidades acadêmicas e artísticas. Em 1958, foi inaugurado o Teatro Santo Antônio, posteriormente reformado e renomeado como Teatro Martim Gonçalves, um importante palco para experimentações e apresentações teatrais.
A evolução da escola trouxe expansão estrutural e acadêmica, incluindo a implementação do curso de licenciatura nos anos 1980 e a criação do programa de pós-graduação no final da década de 1990. Essa ampliação gerou a necessidade de novas instalações, culminando em projetos de expansão, como a modernização do Teatro Martim Gonçalves e a construção dos laboratórios cênicos.
No entanto, as obras de ampliação iniciadas em 2012 enfrentaram diversos desafios. Interrompidas por questões contratuais e pela crise financeira que impactou as universidades públicas, a construção sofreu novos atrasos devido à pandemia da COVID-19. Em 2024, o último repasse de recursos para a UFBA pelo PAC das Universidades não contemplou a Escola de Teatro, deixando a instituição sem os projetos executivos necessários para a retomada das obras.