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PMs matam jovem negro com 4 tiros no interior de SP; ação não utilizou câmeras

PMs alegam que a vítima fez uma “quantidade não observada” de tiros contra quatro policiais militares. Segundo familiares, o jovem estava desarmado
Policiais militares em fileira na inauguração do 15º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), em Guarulhos (SP).

Policiais militares em fileira na inauguração do 15º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), em Guarulhos (SP).

— Reprodução / Governo do Estado de São Paulo

12 de fevereiro de 2025

Na noite da terça-feira (11), um jovem negro foi morto por policiais militares do 13º Batalhões de Ações Especiais (BAEP) da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMSP), na cidade de Bauru, no interior paulista.

Igor Gabriel Da Silva Santos, de 27 anos, foi atingido por quatro disparos durante uma abordagem no Jardim Bela Vista, que contou com a participação de quatro PMs. Nenhum policial utilizou câmeras corporais na ação.

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A versão dada pelos agentes no Boletim de Ocorrência, ao qual a Alma Preta teve acesso, alega que a vítima teria fugido após ser autuada em uma região residencial do bairro. De acordo com os PMs, o rapaz teria saltado pelos telhados das casas.

O documento ainda relata um suposto tiroteio entre os agentes e o jovem dentro de um imóvel, que tinha um matagal no quintal, onde Igor teria se escondido. Segundo o boletim, ao ser pego, o homem realizou “uma quantidade não observada” de disparos quando foi alvejado.

Em entrevista à Alma Preta, pessoas do convívio de Igor Gabriel, que não terão suas identidades reveladas por segurança, contam não acreditar que a vítima estaria armada.

‘Como ele atiraria e não teria um furo?’

“Infelizmente, temos que ficar espertos. Não tem como saber o que pode acontecer com você depois, mas a gente quer justiça. Do jeito que eles [policiais] pintam a notícia, parece que ele era um bandido, mas nunca tem perfuração de bala nos carros, na casa, nunca tem um policial baleado. Como que ele atiraria e não teria um furo?”, questiona uma das pessoas ouvidas pela reportagem.

Ainda de acordo com o registro da PM, a abordagem teria iniciado por volta das 18h40. Uma moradora que acompanhou o acontecimento diz que o corpo da vítima só teria sido retirado cerca de três horas depois, às 23h.

“Eles falam que ele fugiu e pulou o portão da casa. Lá tem cachorro e ele foi mordido. Se ele tivesse armado, ele teria agredido o cachorro ou até mesmo feito a família de refém. Não fez, porque não tinha arma. A polícia executou ele no quintal dessa mulher”, conta.

Segundo relatos, ao saber da morte do filho, a mãe da vítima ainda teria sido tratada de maneira hostil por policiais na delegacia.

Os familiares de Igor desabafam sobre a dificuldade de lidar com o luto. “É um momento muito difícil pra nós que somos a família dele, que conhecemos ele. Não tinha arma, ele não faria isso”, diz um parente do jovem.

A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) em busca de informações sobre a abordagem e a situação dos PMs envolvidos na ocorrência, mas não obteve retorno até o momento da publicação deste texto. O espaço segue aberto.

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  • Verônica Serpa

    Graduanda de Jornalismo pela UNESP e caiçara do litoral norte de SP. Acredito na comunicação como forma de emancipação para populações tradicionais e marginalizadas. Apaixonada por fotografia, gastronomia e hip-hop.

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