“Eu uso a fotografia para confrontar e curar, por isso me denomino ativista visual”. Desta forma, Zanele Muholi descreve sua trajetória, em que arte e política são inseparáveis. Um dos principais nomes da arte contemporânea, seu trabalho pode ser visto em “Beleza valente”, primeira exposição individual de Muholi no Brasil, exibida no IMS Paulista, em São Paulo (SP).
Com curadoria de Daniele Queiroz, Thyago Nogueira e Ana Paula Vitorio, a mostra traça um panorama da carreira de Muholi, com obras que documentam e celebram a comunidade negra LGBTQIAPN+ na África do Sul e no mundo.
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Muholi nasceu em 1972, em Umlazi, Durban, durante o regime do apartheid na África do Sul. O fim do apartheid e a nova Constituição, implementada por Nelson Mandela em 1996 – que proibiu a discriminação racial, sexual e de gênero –, não foram suficientes para deter o racismo, o preconceito e os crimes de ódio. A fim de lutar contra essa realidade, Muholi estudou fotografia e passou a fazer reportagens que expunham episódios de violência.
Em 2004, seu trabalho ganhou atenção nacional. Com o passar do tempo, trocou as fotografias de denúncia por retratos e autorretratos, criando um vasto arquivo de imagens que confrontam e subvertem os olhares e narrativas coloniais.
A exposição reúne mais de 100 obras, produzidas ao longo de sua carreira, de 2002 até hoje. O conjunto inclui fotografias, vídeos e pinturas, além da escultura de bronze “A portadora das águas” (Mmotshola Metsi), de 2023.
São apresentadas suas principais séries, como “Faces e fases”, “Somnyama Ngonyama” e “Bravas belezas”. A mostra traz também obras inéditas feitas no Brasil em 2024, quando Muholi veio a São Paulo para participar do Festival ZUM e conheceu organizações e instituições LGBTQIAPN+, num diálogo entre a história da luta por direitos no seu país e no contexto brasileiro.
“Tudo o que eu quero ver é apenas a beleza. E beleza não significa que você tenha que sorrir, mostrar os dentes ou se esforçar mais. Basta existir”, afirma Muholi. O título da mostra “Beleza valente” evidencia que, na obra de Muholi, a beleza é uma forma de luta e afirmação em oposição à violência contra pessoas negras LGBTQIAPN+.
Também sobre essa característica central do trabalho, a curadoria comenta: “Identificada como uma pessoa de gênero não binário, Muholi constrói fotografias que desmontam os padrões de masculino e feminino em busca de liberdade e fluidez. Seu trabalho valoriza a beleza comum, cotidiana e comunitária, transformada em experiência extraordinária. Sua luta por justiça e dignidade engrandece todas as pessoas.”
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Muitas das séries de Muholi são fruto de um envolvimento com as pessoas fotografadas, buscando retratá-las com suas roupas e poses preferidas, em situações que valorizem sua imagem e aparência. Muholi evita o olhar objetificante, que marca grande parte da história da fotografia, em especial o registro de pessoas negras. Com isso, cria um grande álbum dessa família escolhida, um arquivo de fotografias de pessoas que historicamente foram excluídas das representações oficiais.
Em cartaz até 22 de junho, a exposição contará com uma ampla programação de eventos. Ao visitar a mostra, o público é convidado a se aproximar da obra de Muholi, de sua comunidade e resistência, como enfatiza em suas próprias palavras: “Quero projetar publicamente, sem vergonha, que somos indivíduos ousados, negros, belos e orgulhosos”.
Serviço
Quando: até 22 de junho de 2025
Onde: 6º andar do IMS Paulista | Avenida Paulista, 2424, São Paulo
Horário de funcionamento: Terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h
A exposição conta com recursos de acessibilidade, como pranchas táteis, audiodescrição e legendas
Entrada gratuita