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Quilombo no Tocantins vive em pânico com ataques e ameaças de fazendeiros

Em entrevista à Alma Preta, moradora conta que crianças pequenas e idosos da comunidade já precisaram fugir por medo de assassinatos
A foto mostra área do quilombo Rio Preto, em Lagoa do Tocantins (TO), em chamas após ataque em setembro de 2023.

A foto mostra área do quilombo Rio Preto, em Lagoa do Tocantins (TO), em chamas após ataque em setembro de 2023.

— Reprodução / Governo do Tocantins

24 de fevereiro de 2025

A comunidade quilombola de Rio Preto, situada no município de Lagoa do Tocantins (TO), teve uma casa incendiada por fazendeiros que reivindicam parte do território, certificado pela Fundação Cultural Palmares (FCP) desde 2023.

O crime ocorreu no dia 19 de fevereiro e não foi o primeiro ataque direcionado ao território, que abriga cerca de 50 famílias. Segundo relatos de moradores, ao menos três homens invadiram o local, destruíram uma casa feita de palha e madeira e incendiaram os destroços. O caso está sob investigação da Polícia Federal.

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Em entrevista à Alma Preta, uma quilombola da região explicou que a área sofre com ameaças de fazendeiros e empreendimentos interessados no terreno há, no mínimo, dois anos.

“Eles já fizeram ameaças pessoalmente contra nós. Tivemos casas queimadas, roças destruídas, residências demolidas com trator, estradas bloqueadas”, conta.

De acordo com a moradora, a violência já levou quilombolas a fugirem do local, pela mata ou rio, com medo de serem assassinados.

“Eles nunca chegaram a conseguir agredir fisicamente porque os quilombolas fogem. Muitas vezes são idosos, crianças de dois até cinco anos, que precisam pular na água no meio da noite para fugir. É muito perigoso, porque tem algumas crianças que ainda nem sabem nadar”, diz.

Incêndio não foi o primeiro ataque

Conforme informado pela liderança, o incêndio criminoso ocorrido em 19 de fevereiro foi cometido por um fazendeiro que já havia atentado contra a comunidade anteriormente, ao construir uma cerca dentro da área do quilombo. O cercado impedia o acesso a parte das residências e ao rio.

A retirada parcial da cerca ocorreu em 3 de fevereiro, com o auxílio da Defensoria Pública do Tocantins (DPTO) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Para a quilombola ouvida pela reportagem, a remoção pode ter desencadeado o último ataque.

Os casos de violência contra o quilombo tiveram início em 2023. À época, outro incêndio criminoso ocorreu na área e algumas famílias perderam suas casas. Até o momento, nenhuma pessoa foi indiciada ou responsabilizada pelos crimes.

“Tem alguns quilombolas que não conseguiram refazer suas casas ainda desde o ataque de 2023, devido às contínuas ameaças dentro do território”, relata.

A falta de policiamento ou medidas que garantam a segurança da comunidade também preocupa os moradores. As polícias Civil e Militar teriam ido até o quilombo após o último ataque, mas não mantiveram nenhum tipo de escolta ou apoio. 

A Secretaria de Segurança de Tocantins (SSP-TO) foi oficiada na sexta-feira (20) para que sejam tomadas providências urgentes para a segurança do local. O documento, enviado pela DPTO, define o caso como uma violação de direitos e “um forte sinal de violência contra a comunidade”.

Procurada pela Alma Preta, a SSP-TO afirmou que o crime é investigado e que a Polícia Civil trabalha para reunir provas e elaborar um relatório sobre a situação. 

“As equipes policiais estão em diligência para apurar a situação no local. Caso se trate de um conflito fundiário, a Polícia Civil elaborará um relatório e reunirá as provas possíveis no momento, encaminhando o caso posteriormente à Polícia Federal, que é a autoridade competente para esse tipo de situação”, diz a nota do órgão.

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  • Verônica Serpa

    Graduanda de Jornalismo pela UNESP e caiçara do litoral norte de SP. Acredito na comunicação como forma de emancipação para populações tradicionais e marginalizadas. Apaixonada por fotografia, gastronomia e hip-hop.

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