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Sem carnaval, trabalhadores informais de Salvador cobram auxílio financeiro da prefeitura

Com o cancelamento do evento, a estimativa é que mais de 20 mil trabalhadores sejam afetados; ambulantes contam que, até o momento, não foram procurados pela prefeitura, que já anunciou suporte financeiro para os profissionais do setor da cultura e evento

Foto: Bruno Concha/Secom Prefeitura Municipal de Salvador

Foto: Descrição: Imagem enquadra três barracas de cerveja, guarda-sóis, todos na cor amarela, e quatro pessoas.

4 de fevereiro de 2022

Pelo segundo ano consecutivo, o cancelamento do Carnaval de Salvador causa impacto na vida dos trabalhadores que sobrevivem do evento, sobretudo, os profissionais do setor informal, como os ambulantes, cordeiros e catadores de materiais recicláveis, que veem nessa época do ano a oportunidade de aumentar a renda e tirar o sustento da família.

O anúncio de um auxílio financeiro para os profissionais da cultura da cidade chamou a atenção desses trabalhadores informais, que relatam que ainda não foram procurados pela prefeitura de Salvador para um diálogo sobre como a categoria será amparada diante do cancelamento dos festejos com o avanço da variante Ômicron da Covid-19.

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Na última quarta-feira (2), o prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), anunciou a destinação de um projeto de lei que concede auxílio financeiro para os profissionais da área da cultura e eventos, como artistas e agentes culturais, que foram afetados com o cancelamento do carnaval. Segundo o prefeito, o projeto será enviado para a Câmara Municipal e o pagamento do auxílio, que terá valor acima de R$1,1 mil pago no ano passado, irá ocorrer ainda antes do período que aconteceria a festa.

Apesar do anúncio, o prefeito não deu detalhes se o auxílio será ampliado aos trabalhadores informais, que, sem alternativas financeiras, também lidam com a crise de forma mais sensível.

“A gente fica sem saber o que fazer porque já é um período certo que a gente consegue tirar um ‘dinheirinho’ bom, vendendo nossa água, cerveja, e sem um auxílio é difícil manter as contas”, diz João Carlos, ambulante há quase 15 anos.

Segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, a Bahia possuía 5,936 milhões de pessoas acima dos 14 anos ocupadas. Desse total, 56,6% estavam em ocupações informais. Em uma análise por gênero, os homens são os que mais ocupam os trabalhos informais, com 57,5%, enquanto as mulheres representam 55,2% da taxa de informalidade.

Na análise por raça, os autodeclarados pretos e pardos ocupavam 56,4% do setor informal, enquanto os autodeclarados brancos eram 57,3% do total. Os dados também apontam para uma disparidade salarial entre os trabalhadores informais negros e brancos, sendo que o rendimento médio dos profissionais pretos e pardos era de R$815, enquanto o de brancos era se R$571 a mais, totalizando R$ 1.386 do rendimento total.

Na região do Centro Histórico da capital baiana, um dos principais pontos do Carnaval, são mais de 90 barraqueiros instalados. Porém, com o remanejamento dos profissionais devido à requalificação do Terreiro de Jesus, em 2019, apenas 16 trabalhadores tiveram autorização para retomar os pontos distantes da praça principal.

Para os trabalhadores que estão atuando, os impactos já são sentidos antes do carnaval, já que o aumento de casos de gripe e de Covid-19 tem causado baixo movimento pela região.

Ambulante há mais de 40 anos e integrante da Associação de Barraqueiros do Pelourinho, Telma Lima diz que a categoria ainda não foi convocada para uma conversa.

“Até agora não chamaram a gente para falar, não fizeram nada, só que a gente precisa ter essa resposta porque a maioria está sem trabalhar. Para quem está trabalhando – o movimento já caiu com esse ‘negócio’ da gripe -, se precisar recolher, precisa ter alguma coisa, mas até agora nada. Bruno [prefeito] não recebe a gente. A gente pede para marcar e eles não recebem a gente”, relata Telma.

Ela também defende que a prefeitura dê um olhar para os trabalhadores informais, que, segundo Telma, estão sem nenhuma expectativa financeira.

“Não são só os músicos e os blocos que vivem do Carnaval. Tem os ‘pequenininhos’ que também tiram o seu sustento e a gente não tem expectativa nenhuma”, pontua.

Para a presidente da Associação Baiana dos Trabalhadores e Trabalhadoras Informais (Abatis), Pitty Almeida, sem um auxílio, a estimativa é que mais de 20 mil trabalhadores sejam afetados. Segundo Pitty, o ideal seria a destinação de um suporte de R$ 350, superior ao valor de R$270 pago desde 2020 pela prefeitura por meio do ‘Salvador Por Todos’, programa municipal que presta auxílio mensal aos trabalhadores informais que ficaram sem renda por conta da pandemia do coronavírus.

“São centenas de famílias dos trabalhadores informais, ambulantes, cordeiros, catadores, as baianas de acarajé… São trabalhadores que contam com essa renda extra e a gente sabe da dificuldade que é ser trabalhador ambulante, principalmente agora durante a pandemia”, relata Pitty.

Ela também destaca que o valor poderia ser repassado com os investimentos que seriam feitos pela prefeitura e pelo Governo da Bahia na festa.”A gente foca muito no carnaval, mas a gente sabe que a perspectiva de vida do trabalhador aqui fora está muito ruim. Seria muito importante termos esse auxílio e ajudarmos outras pessoas”, completa.

A Alma Preta Jornalismo procurou a Prefeitura de Salvador para buscar respostas sobre os relatos dos trabalhadores informais e questionou se há alguma previsão de diálogo com a categoria. Em resposta, a prefeitura se limitou a dizer que “prossegue avaliando a concessão do auxílio aos trabalhadores do carnaval”.

Leia também: Após assassinato de homem negro, Carrefour mantém desigualdade racial em cargos de comando

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