Por: Viviana Santiago
A crise climática não é neutra. Seus impactos são sentidos de forma desigual, e as mulheres, especialmente as mulheres negras, indígenas, quilombolas e do campo, estão na linha de frente dessa emergência global. No Brasil, país de dimensões continentais e marcado por desigualdades estruturais, os efeitos da degradação ambiental e das mudanças climáticas aprofundam injustiças históricas, atingindo com mais força aqueles que menos contribuíram para o problema.
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A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que será realizada em 2025 em Belém, no coração da Amazônia, oferece uma oportunidade única para colocar em evidência essas desigualdades e pautar soluções justas e inclusivas. As mulheres resistem e lideram a luta por justiça climática, mas suas vozes ainda são sub-representadas nos espaços de tomada de decisão.
A intersecção entre justiça de gênero e racial, justiça rural e desenvolvimento e justiça climática é central para enfrentar a crise ambiental de maneira eficaz. As mulheres são as principais responsáveis pela segurança alimentar de suas comunidades, no entanto, com a intensificação de eventos extremos, como secas e enchentes, a produção agrícola familiar, onde a presença feminina é predominante, sofre impactos severos.
Além disso, são as mulheres as que mais enfrentam o aumento da violência, a sobrecarga do trabalho de cuidado não remunerado e a precarização de suas condições de vida devido ao colapso ambiental.
No Brasil, o desmatamento na Amazônia já impacta diretamente a vida de milhares de ribeirinhas e indígenas, que veem seus territórios ameaçados por grilagem, queimadas e avanço do agronegócio predatório. É impossível dissociar a luta climática da luta por direitos humanos e justiça social.
O 8 de março, Dia Internacional da Mulher, é um momento de reafirmação dessas pautas. Em todo o país, mulheres se mobilizam para denunciar retrocessos e reivindicar políticas públicas que garantam um desenvolvimento sustentável, que respeite seus modos de vida e assegure sua participação ativa na construção de um futuro justo e igualitário. A COP 30 não pode ser mais um espaço onde as soluções são debatidas sem a presença e o protagonismo das mulheres que já fazem a diferença em suas comunidades.
A Oxfam Brasil reafirma seu compromisso com a justiça climática e a igualdade de gênero. É urgente reconhecer e fortalecer o papel das mulheres como agentes de mudança, garantir financiamento climático direcionado para iniciativas lideradas por mulheres e assegurar que suas vozes sejam ouvidas nos espaços de decisão. Somente assim poderemos enfrentar a crise climática sem reproduzir as desigualdades que historicamente marcaram nossa sociedade.
A resistência das mulheres não pode ser ignorada. É hora de transformar essa resistência em força política e compromisso real por um mundo mais justo e sustentável.
Viviana Santiago é diretora-executiva da Oxfam Brasil.