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‘Não vamos continuar enterrando os nossos’: desabafo sobre a violência policial contra imigrantes negros

A ativista Mariama Bintu compartilha desabafo sobre casos recorrentes de violência policial contra imigrantes negros no centro de São Paulo.
Reprodução/redes sociais

Senegalês é morto na região do Brás.

— Reprodução/redes sociais

12 de abril de 2025

Na tarde de ontem (11), o trabalhador ambulante senegalês Ngange Mbaye, de 34 anos, foi morto pela Polícia Militar no Brás, na região de comércio popular no centro de São Paulo.

Este não é um caso isolado de violência policial contra imigrantes negros que trabalham na região. A Operação Delegada, que prevê apoio da PM nos policiamentos da Guarda Civil Metropolitana da cidade, existe desde 2009 e é o contexto dessas agressões.

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Segundo o coletivo Fronteiras Cruzadas, que acompanha e apoia migrantes contemporâneos em São Paulo, são casos de roubos de mercadorias por agentes públicos, prisões ilegais, condenações absurdas contra pessoas inocentes, espancamentos, ameaças diversas, perseguições e mortes violentas.

Abaixo, o relato da ativista e imigrante senegalesa Mariama Bintu sobre o caso de extrema violência que culminou na morte de mais um imigrante negro:

Ontem, no final da tarde, um pouco antes das 17h, o irmão Ngange Mbaye estava ali na região do Brás, no centro de São Paulo. Ele não estava com o carrinho, não estava com mercadoria exposta no chão, nem vendendo nada no momento. A polícia iniciou uma operação e, como sempre, começou uma correria atrás de um dos nossos irmãos.

Na tentativa de pegar o carrinho dele, a polícia começou a agredir esse irmão. Ele corria, tentando proteger seu sustento, e claro, tentou se defender. Pegou um pedaço de pau, numa tentativa desesperada de proteger a si mesmo. Mas foram muitos policiais — cinco, seis, sete — que cercaram, bateram, e no meio disso, atiraram. Dispararam dois tiros nele.

Vários irmãos senegaleses saíram feridos. Outros foram levados para a delegacia.

Estamos exigindo que esses irmãos sejam soltos imediatamente. Mas estamos sem amparo. A verdade é essa: não temos um lugar, um apoio, uma estrutura que nos proteja. A mídia brasileira, quando noticia algo, cada veículo faz por benefício próprio, distorcendo a realidade.

Estamos muito tristes. Estamos desesperados. E eu, como mulher negra, como ativista que vive no Brasil — mais precisamente no Rio de Janeiro — digo que essa é uma realidade apagada, silenciada. Virou quase moda matar um preto. Para muitos africanos aqui, isso ainda pode parecer distante, mas quem tem consciência racial sabe: não é a cada 23 minutos, é a cada 23 segundos que matam uma pessoa preta neste país.

É uma situação lamentável. Não são apenas balas perdidas — é uma perseguição planejada. É tiro para matar. Eles poderiam fazer abordagens, poderiam conduzir de outras formas, mas preferem atirar.

Vamos nos manifestar. O Ngange era um menino novo. Não tinha família aqui. Morava com outro irmão senegalês, com quem ainda tenho contato. Há testemunhas — muitas — que viram tudo de perto. Foi provocação. Foi racismo disfarçado de operação policial.

Porque o Brasil não tem só africanos, senegaleses ou angolanos nas ruas. Há também libaneses, chineses, bolivianos… O mercado popular é cheio de diversidade. Mas, coincidentemente, toda vez que há tragédia, o corpo que cai é preto. Sempre.

Queremos questionar isso diretamente às autoridades brasileiras, aos órgãos de direitos humanos, à sociedade civil que diz defender a vida com dignidade. Se esses irmãos tivessem emprego, ninguém estaria na rua. Mas são pessoas tentando sobreviver, tentando levar pão pra casa, tentando viver com dignidade.

A gente é humilhado. A gente é recusado no Bolsa Família. E mesmo assim, muitos de nós recusamos isso porque sabemos que temos capacidade de produzir, de viver com nosso próprio esforço — mas isso precisa ser permitido. Só que aqui no Brasil, parece que viver é negado pra nós.

A imigração vendida como integração é uma mentira. A verdade é que estamos impedidos de viver no Brasil. É uma falsa promessa de acolhimento. O momento é agora: o Brasil precisa ouvir nossas vozes. O mundo precisa saber que estamos cansados. Não vamos continuar enterrando nossos filhos, nossos maridos, nossos irmãos.

Faz pouco tempo, foi uma menina haitiana. Agora é mais um homem preto. Sempre um corpo preto. E sempre no meio de uma multidão, de uma correria… E tudo “por acaso”.

Será mesmo?

Muito obrigada por escutar. Pela emoção. Pelo espaço. Porque, sinceramente, eu já nem sei mais o que dizer.

Marihama Bah

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  • Camila Rodrigues da Silva

    Jornalista com mestrado em economia e formação em demografia. Editora e repórter, com quase 20 anos de experiência em redações da grande imprensa e de veículos independentes de comunicação. Atuo na cobertura de direitos humanos desde 2012.

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