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Negros vivem em áreas com menos ruas asfaltadas e saneamento básico, aponta IBGE 

Levantamento do IBGE mostra que população preta e parda vive em áreas menos asfaltadas, com baixa iluminação e ausência de acessibilidade, além de tratamento de esgoto
Trecho do Rio Joana no Morro do Andaraí, no Rio de Janeiro.

Trecho do Rio Joana no Morro do Andaraí, no Rio de Janeiro.

— Fernando Frazão/Agência Brasil

17 de abril de 2025

Dados do levantamento “Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios”, do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (17), apontam que pessoas negras (pretas e pardas) vivem em regiões com menor acesso a elementos básicos de infraestrutura urbana, quando comparadas à população branca.

Entre os brancos, 91,3% residem em vias asfaltadas. Já entre pretos e pardos, esse percentual cai para 87% e 86%, respectivamente. A diferença também se manifesta na presença de calçadas: 88,2% da população branca mora em ruas com esse equipamento, contra 79,2% dos pretos e 81% dos pardos.

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Mesmo com calçada, a qualidade varia. Cerca de 63,7% dos brancos convivem com obstáculos como buracos ou desníveis. Entre os pardos, esse índice é de 67%,e entre os pretos, 65,2%.

Acessibilidade e transporte público

Outro aspecto abordado pelo levantamento é a existência de rampas para pessoas que usam cadeira de rodas. Apenas 11,1% da população preta e 11,9% da parda vivem em ruas com esse recurso de acessibilidade. Entre os brancos, esse percentual sobe para 19,2%.

Quando o critério é a presença de pontos de ônibus ou vans nas ruas onde moram, brancos têm vantagem em relação aos negros: 10,6% vivem próximos a esse tipo de transporte. Pretos e pardos estão abaixo da média nacional de 8,8%, com 8,2% e 7,1%, respectivamente.

A sinalização para bicicletas, como ciclovias ou placas, é outro item com baixa cobertura geral, mas mais frequente entre os brancos (2,5%) do que entre pretos e pardos (ambos com 1,4%).

Saneamento, arborização e favelização

A presença de bueiros, fundamental para drenagem urbana, foi identificada em ruas de 60,8% dos brancos. Entre pretos e pardos, os percentuais caem para 50,7% e 47,1%, respectivamente.

A arborização, item que também contribui para a qualidade de vida urbana, está presente em vias onde vivem 70,6% dos brancos. O índice entre a população preta é de 59,4% e entre a parda, 60,9%.

Segundo o IBGE, em novembro de 2024, os negros representavam 72,9% dos moradores de comunidades urbanas. Esse dado se conecta com a piora nos indicadores de infraestrutura observada nesses grupos, uma vez que as áreas periféricas, em geral, contam com menos serviços públicos e equipamentos urbanos.

Desigualdade regional e social no país

A análise também mostra que os estados com maior precariedade na infraestrutura urbana são aqueles com maior concentração de pretos e pardos. As regiões Norte e Nordeste têm os piores indicadores. 

O Maranhão, por exemplo, tem o menor percentual de vias pavimentadas (49,5%). No Amapá, 44,5% das ruas são calçadas. Já o Pará tem o menor percentual de ruas com iluminação pública (61,4%).

A pesquisa destaca a piora da infraestrutura em áreas urbanas com maior concentração de população de baixa renda e grupos raciais historicamente excluídos. A ausência de políticas públicas específicas para a urbanização das periferias contribui para a manutenção desse cenário de desigualdade.

Jaison Cervi, gerente de pesquisas do IBGE, explicou que os piores índices para pretos e pardos estão ligados a indicadores socioeconômicos e à maior presença desses grupos em favelas e comunidades urbanas. “Essa desigualdade reflete a falta de investimento em áreas periféricas, onde a população negra é predominante”, afirmou, em nota.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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