Os 21 agricultores do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) vítimas do Massacre de Eldorado do Carajás, no Pará, ganharam um espaço permanente de homenagem e memória no campus da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná. A inauguração, nesta quinta-feira (17), marca os 29 anos do crime que ocorreu na Curva do S, em 1996.
Duas obras do artista Jorge Pedro Lemes criadas em 2003 foram inauguradas e batizadas como “Flores para os Sem-Terra” e “Nossas raízes”. As peças foram restauradas com materiais mais resistentes após terem sido deterioradas pelo tempo.
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A cerimônia de inauguração reuniu a reitoria da universidade, militantes do MST, representantes de sindicatos e estudantes. O evento também contou com a participação de João Pedro Stédile, da coordenação nacional do MST, e Maria Zelzuita, testemunha do massacre, assentada na comunidade 17 de Abril e integrante da coordenação do MST no Pará.
As esculturas relembram a chacina de 1996, quando 1,5 mil trabalhadores rurais que lutavam pela desapropriação de terras foram brutalmente assassinados por policiais militares, que executaram 21 manifestantes e deixaram outros 79 feridos. A violência transformou a data em símbolo nacional, sendo reconhecida como o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.
Durante a cerimônia, Maria Zelzuita relatou detalhes da chacina e as consequências enfrentadas pelas famílias do MST.
“Acabou com o sonho de várias pessoas, dos que eles mataram e dos que não morreram ali. Quase desisti do acampamento, estava só eu e meu filho lá, mas com o tempo que foi passando eu disse que não posso desistir, tenho que dar valor a cada gota de sangue dos nossos companheiros que foram derramados em cima da pista e continuei”, contou a sobrevivente.

João Pedro Stedile enfatizou o papel histórico das obras inauguradas para o registro da memória coletiva e a luta por uma sociedade mais justa. “Esses registros vão ficar na memória coletiva para nós impedirmos novos massacres e para lutarmos por um projeto de uma sociedade mais igualitária.”, afirmou.
As esculturas, confeccionadas em metal, madeira e cimento, retratam os rostos e o nome de cada uma das vítimas do massacre. Segundo o artista Jorge Pedro Lemes, responsável pela obra, a inspiração veio dos totens indígenas, que tradicionalmente representam figuras humanas, é como “um lembrete da história”.
Arte e resistência
A reinauguração foi marcada pela potência da arte como instrumento de preservação da memória e para impulsionar a continuidade da luta. A integrante Nieves Rodrigues, da coordenação pedagógica do acampamento da Juventude na Curva do S, destacou a importância de manter a memória viva.
“A Curva do S tem esse ‘S’ de sangue, mas também de sonhos. É preciso comprometer e inspirar a juventude não só na luta de Oziel, mas de todos os que lutam pela terra”, disse a jovem.
A programação também incluiu apresentações culturais, iniciadas pela cantora Mari Tenório, que abriu o evento, seguida por uma encenação sobre a marcha de 1996. Além disso, as crianças da Orquestra Popular Camponesa, interpretaram o hino do MST, a canção antifascista italiana “Bella Ciao”, e “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga.
No final da cerimônia, artistas, autoridades e militantes realizaram o plantio de duas árvores, símbolo da continuidade e do cuidado com as futuras gerações.