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Monumento em homenagem a vítimas do Massacre de Eldorado do Carajás é reinaugurado 

A cerimônia de inauguração em Maringá (PR) reuniu militantes, representantes do MST, e uma sobrevivente do crime
Obra está instalada no campus da Universidade Estadual de Maringá (UEM) no Paraná.

Obra está instalada no campus da Universidade Estadual de Maringá (UEM) no Paraná.

— João Flavio Borba

18 de abril de 2025

Os 21 agricultores do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) vítimas do Massacre de Eldorado do Carajás, no Pará, ganharam um espaço permanente de homenagem e memória no campus da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná. A inauguração, nesta quinta-feira (17), marca os 29 anos do crime que ocorreu na Curva do S, em 1996.

Duas obras do artista Jorge Pedro Lemes criadas em 2003 foram inauguradas e batizadas como “Flores para os Sem-Terra” e “Nossas raízes”. As peças foram restauradas com materiais mais resistentes após terem sido deterioradas pelo tempo.

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A cerimônia de inauguração reuniu a reitoria da universidade, militantes do MST, representantes de sindicatos e estudantes. O evento também contou com a participação de  João Pedro Stédile, da coordenação nacional do MST, e Maria Zelzuita, testemunha do massacre, assentada na comunidade 17 de Abril e integrante da coordenação do MST no Pará.

As esculturas relembram a chacina de 1996, quando 1,5 mil trabalhadores rurais que lutavam pela desapropriação de terras foram brutalmente assassinados por policiais militares, que executaram 21 manifestantes e deixaram outros 79 feridos. A violência transformou a data em símbolo nacional, sendo reconhecida como o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária. 

Durante a cerimônia, Maria Zelzuita relatou detalhes da chacina e as consequências enfrentadas pelas famílias do MST.

“Acabou com o sonho de várias pessoas, dos que eles mataram e dos que não morreram ali. Quase desisti do acampamento, estava só eu e meu filho lá, mas com o tempo que foi passando eu disse que não posso desistir, tenho que dar valor a cada gota de sangue dos nossos companheiros que foram derramados em cima da pista e  continuei”, contou a sobrevivente.

Maria Zelzuita, testemunha do Massacre de Eldorado do Carajás na reinauguração do monumento na Universidade Federal de Maringá (UEM). (Foto: Brano Ortega)

João Pedro Stedile enfatizou o papel histórico das obras inauguradas para o registro da memória coletiva e a luta por uma sociedade mais justa. “Esses registros vão ficar na memória coletiva para nós impedirmos novos massacres e para lutarmos por um projeto de uma sociedade mais igualitária.”, afirmou.

As esculturas, confeccionadas em metal, madeira e cimento, retratam os rostos e o nome de cada uma das vítimas do massacre. Segundo o artista Jorge Pedro Lemes, responsável pela obra, a inspiração veio dos totens indígenas, que tradicionalmente representam figuras humanas, é como “um lembrete da história”.

Arte e resistência

A reinauguração foi marcada pela potência da arte como instrumento de preservação da memória e para  impulsionar a continuidade da luta. A integrante Nieves Rodrigues, da coordenação pedagógica do acampamento da Juventude na Curva do S, destacou a importância de manter a memória viva. 

“A Curva do S tem esse ‘S’ de sangue, mas também de sonhos. É preciso comprometer e inspirar a juventude não só na luta de Oziel, mas de todos os que lutam pela terra”, disse a jovem.

A programação também incluiu apresentações culturais,  iniciadas pela cantora Mari Tenório, que abriu o evento, seguida por uma encenação sobre a marcha de 1996. Além disso, as crianças da Orquestra Popular Camponesa,  interpretaram o hino do MST, a canção antifascista italiana “Bella Ciao”, e “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga.

No final da cerimônia, artistas, autoridades e militantes realizaram o plantio de duas árvores, símbolo da continuidade e do cuidado com as futuras gerações.

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