A Polícia Rodoviária Federal (PRF) prendeu, em Pimenta Bueno (RO), o principal suspeito de assassinar o produtor cultural e ativista afro vegano Denis Teixeira Soares Lima, conhecido como Pituco. O crime ocorreu em fevereiro de 2021, na capital paulista, e o acusado, Herberth Prates Rodrigues Lima, estava foragido desde então.
Durante uma fiscalização de rotina no último dia 13 de março, Herberth tentou enganar os agentes com documentos falsos e apresentou uma carteira de habilitação inautêntica. A equipe da PRF identificou a fraude e, após cruzamento de dados, confirmou sua verdadeira identidade. Contra ele havia um mandado de prisão preventiva expedido pela 5ª Vara do Tribunal do Júri de São Paulo, com validade até 2044.
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Herberth foi conduzido à sede da Polícia Federal em Pimenta Bueno, onde passou por exame de corpo de delito.

O caso
Denis Teixeira Soares Lima era produtor cultural, culinarista e ativista afro vegano. Atuava na valorização de saberes tradicionais negros e na difusão de práticas alimentares orgânicas e sustentáveis.
Denis desapareceu na noite de 22 de fevereiro de 2021, após deixar de responder às mensagens da namorada. O último registro do celular do ativista indicava sua presença na sede da empresa onde trabalhava com Herberth e um terceiro sócio, no bairro do Morumbi.
A companheira de Denis iniciou as buscas e pressionou os sócios por respostas. Dias depois, eles apresentaram uma versão do crime à polícia, alegando que dois desconhecidos teriam assassinado Denis no apartamento, e exigido que o corpo fosse ocultado. Posteriormente, a versão se provou falsa. Imagens de câmeras de segurança confirmaram que Denis e Herberth estavam sozinhos no local na noite do assassinato.
O corpo da vítima foi localizado em uma vala rasa, na mata de Paranapiacaba, a 58 km de São Paulo. Um terceiro sócio levou os policiais até o local e confessou ter ajudado na ocultação, sem ter ciência da real autoria do crime.
Herberth não prestou depoimento formal na época e desapareceu. Segundo o terceiro sócio, ele teria alegado riscos à própria vida e à da filha pequena, e desapareceu logo em seguida.
‘Um luto. Um silêncio’
Em entrevista à Alma Preta, uma pessoa próxima de Denis, que prefere não ser identificada, relatou o impacto do crime. “Um luto. Um silêncio. Os filhos sem resposta, abalados, amigos e irmãs inconformados com a violência desta história. Acho que ninguém faz ideia do impacto desta violência para seus filhos. Denis não merecia ter este fim.”
A pessoa também expressou indignação com o autor do crime. “O assassino é um grande bundão que não bancou arcar com seu erro. Fugiu, trocou de nome, covarde, canalha. Ele é tão egoísta e desonesto que fugiu para não encarar as consequências do que fez.”
Sobre o outro sócio, que ajudou a ocultar o corpo, desabafou: “Covardes. São inúmeras lacunas deixadas, são perguntas que nunca foram respondidas. Por quê? Para quê? Valeu a pena?.”
Justiça, memória e ausência
A notícia da prisão chegou por meio de amigos e da irmã de Denis. “Soube pela irmã, que é advogada, e por outros amigos que confirmaram a notícia graças à mídia local. O bom jornalismo teve um papel fundamental. Se não fosse a mídia e as redes sociais, seria muito diferente o desfecho desta história.”
Ela afirma que, embora a prisão traga certo alívio, a dor permanece. “Nada trará o Denis de volta. Saber da prisão dá um alento no coração, mas não repara em nada tudo o que vivemos até encontrarmos o corpo e o velar com dignidade.”
A página de Denis nas redes sociais hoje funciona como um memorial. “Foi ideia da mãe de um dos filhos dele. Ter essa página voltada para as memórias dele é uma forma de garantir aos filhos uma lembrança de um pai que eles não tiveram.”
‘Para sempre Denis’
Denis teve uma trajetória marcada por abandono e resistência. “Denis foi um homem marginalizado desde sua infância. Sua referência paterna era violenta. Foi levado para um colégio interno. Se fez na vida com muitas dores e sofrimentos da falta de amor, lar e família presente.”
Ela relembra a conexão de Denis com a cultura negra e a luta vegana. “Ainda jovem adentrou a cena e cultura hip-hop. Por seu humor e inteligência únicos, cativava por onde passava. Era com orgulho vegano, apaixonado por música afro, engajado em causas sociais. Teve dois filhos, o Ângelo e o Manolo. Nunca escondeu suas falhas como pai, assim como nunca escondeu seu amor por eles.”
Com emoção, conclui: “Se estivesse vivo e lendo tudo que saiu dele até hoje nas mídias, ele com certeza acharia graça de que ninguém desconfiasse que ‘Durden’ era do seu personagem favorito no Clube da Luta. Esse era o humor do Denis, essa era a inteligência dele. Para sempre Denis.”
A Alma Preta tentou contato com a Polícia Rodoviária Federal questionando sobre os desdobramentos do caso, mas não teve retorno até o fechamento do texto. O espaço segue aberto.