A jovem Tainá Louriçal denunciou que foi vítima de racismo religioso no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, quando teve seus fios de conta jogados no lixo enquanto estava internada na unidade. O caso foi registrado nesta quinta-feira (24) na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).
A vítima relatou que o caso ocorreu no dia 18 de abril, quando a equipe do hospital jogou fora seus adereços sagrados no momento em que ela foi tomar banho. O item religioso é usado como forma de proteção espiritual para pessoas de religiões de matriz africana.
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Em publicação nas redes sociais, a jovem contou que pediu ajuda e ao questionar sobre o fio a uma enfermeira, ela chegou a dizer que “Só Jesus Salva, só Jesus liberta”. “Só o deus dela vai me salvar da doença?” detalhou a paciente.
Tainá também afirmou que no mesmo quarto em que ficou, outra paciente estava com uma Bíblia, que não foi retirada. Pra ela, o tratamento diferente reforça o crime de racismo religioso.

A vereadora Benny Briolly (PSOL-RJ), a deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ), a Yalorixá Márcia Marçal e outras lideranças religiosas acompanharam a denúncia e cobraram providências das autoridades.
Em vídeo divulgado nas redes, a Yalorixá Márcia Marçal se manifestou cobrando punição aos envolvidos pelo desrespeito às vestes e itens das pessoas pertencentes ao Candomblé e a Umbanda.
“Até quando a gente vai passar por isso, o que está faltando para as autoridades tomarem uma atitude?” afirmou. “Tratou as nossas coisas, nossos pertences, nosso sagrado como lixo. Pegou o fio de conta dela e jogou no lixo como se fosse um papel velho”, destacou.
A cantora Teresa Cristina também se pronunciou sobre o caso. “Vivemos em um país chamado laico, e como uma filha de santo, tratando de um câncer, vai tomar banho no hospital e tem os fios de conta dela jogados no lixo? Será que se estivesse com uma Bíblia, um crucifixo ou uma mensagem de um santo de devoção, aconteceria o mesmo?”, disse em post no Instagram.
O que diz o hospital
Em nota, o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle afirmou que os fatos estão sendo investigados com “seriedade e rigor que o caso exige”. A direção informou que a paciente, já com alta médica, foi acompanhada nesta sexta-feira (25) à ouvidoria para realização da denúncia e que “foi anexada e encaminhada à corregedoria geral da Ebserh, em Brasília”.
Segundo a direção, após esse processo serão tomadas as “medidas cabíveis conforme o resultado da apuração”.
A gestão do hospital também declarou que repudia veementemente qualquer forma de desrespeito à liberdade religiosa e “reafirma seu compromisso com a promoção de um ambiente acolhedor, inclusivo e respeitoso para todos os pacientes, acompanhantes e profissionais”.