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Igreja católica eleger um papa negro conservador não trará reais mudanças

A possibilidade de um papa negro tem se tornado tema de debate — não apenas pela representatividade que traria, como também pelas implicações ideológicas que essa escolha poderia carregar
O cardeal guineense Robert Sarah.

O cardeal guineense Robert Sarah.

— Gabriel Bouys/AFP

27 de abril de 2025

A Igreja Católica é uma das instituições mais antigas do mundo, marcada por uma estrutura hierárquica sólida e por tradições milenares. Embora tenha passado por mudanças significativas ao longo da história, sua liderança ainda é, em grande parte, dominada por europeus, especialmente italianos. No entanto, nos últimos anos, a possibilidade de um papa negro tem se tornado tema de debate — não apenas pela representatividade que traria, como também pelas implicações ideológicas que essa escolha poderia carregar.

Entre os nomes frequentemente citados como “papáveis”, alguns cardeais africanos vêm ganhando destaque. Um dos mais mencionados é o cardeal Robert Sarah, da Guiné. Negro, africano e com profundo conhecimento teológico, ele representa para muitos a chance de ver, pela primeira vez na história da Igreja, um papa negro. No entanto, Sarah também é conhecido por seu posicionamento profundamente conservador — um traço que provoca reações diversas dentro e fora da comunidade católica.

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O conservadorismo de Sarah e de outros líderes eclesiásticos africanos não é isolado. Em muitos países do continente, a fé católica se manifesta de forma tradicionalista, com forte ênfase nos valores morais clássicos da Igreja, como a oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, ao aborto e à ordenação de mulheres.

Para parte dos fiéis, esse conservadorismo é visto como um sinal de fidelidade às raízes doutrinárias do catolicismo. Para outros, no entanto, ele representa um obstáculo ao diálogo e à evolução da Igreja frente aos desafios do mundo contemporâneo.

A possível eleição de um papa negro seria, sem dúvida, um marco histórico. Representaria não apenas um gesto simbólico de inclusão e reconhecimento da importância da África para o catolicismo atual, mas também uma chance de reconfigurar a imagem da Igreja diante das demandas por diversidade e justiça racial. Contudo, essa conquista simbólica pode perder parte de sua força se vier acompanhada de uma rigidez ideológica que afasta em vez de aproximar.

A Igreja vive hoje um paradoxo: precisa manter sua identidade espiritual, mas também se reinventar para dialogar com um mundo em transformação. Um papa negro conservador, como Robert Sarah, poderia ser visto como uma continuidade da tradição, mas também como uma oportunidade perdida de renovação real.

Portanto, mais do que a cor da pele ou a origem geográfica, o que está em jogo na escolha do próximo papa é o tipo de liderança que ele será capaz de oferecer. A Igreja precisa de um pastor que represente todos os seus fiéis — inclusive os marginalizados — e que seja capaz de unir tradição e abertura, fé e justiça.

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  • Felipe Ruffino

    Felipe Ruffino é jornalista, pós-graduado em Assessoria de Imprensa e Gestão da Comunicação, possui a agência Ruffino Assessoria e ativista racial, onde aborda pautas relacionada à comunidade negra em suas redes sociais @ruffinoficial.

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