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Desastres climáticos como as enchentes no RS serão 5 vezes mais frequentes, alerta estudo

Relatório da Agência Nacional de Águas revela que eventos extremos no Sul do Brasil podem se tornar mais intensos e frequentes, exigindo mudanças urgentes no planejamento urbano e hídrico
Locais alagados pela enchente no município de Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul.

Locais alagados pela enchente no município de Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul.

— Bruno Peres/Agência Brasil

30 de abril de 2025

A publicação “As Enchentes no Rio Grande do Sul – Lições, Desafios e Caminhos para um Futuro Resiliente”, lançada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), concluiu que o desastre ocorrido em abril e maio de 2024 foi o maior da história do Rio Grande do Sul e um dos maiores já registrados no Brasil. Atingindo 478 municípios, a enchente afetou 2,4 milhões de pessoas, causou 183 mortes e provocou prejuízos econômicos bilionários.

A chuva intensa fez o lago Guaíba atingir 5,37 metros em Porto Alegre, superando em mais de 60 cm o recorde de 1941. Segundo o estudo, a duração, a intensidade e a abrangência das chuvas não possuem precedentes no histórico climático do país.

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Chuvas severas e enchentes devem se repetir com mais intensidade

Um dos principais alertas do levantamento é o aumento na frequência e na magnitude de enchentes extremas na região Sul. A publicação estima que desastres climáticos antes considerados raros, com ocorrência a cada 50 anos, podem passar a ocorrer a cada dez anos. Isso significa um crescimento de até cinco vezes na frequência desses desastres.

Além disso, as projeções indicam que a vazão dos rios pode aumentar em cerca de 20% nos próximos anos. Esse cenário é impulsionado pelas mudanças climáticas induzidas por atividades humanas, agravadas por fenômenos como o El Niño, que contribuiu para o volume de chuvas em 2024.

Infraestruturas antigas falharam diante da nova realidade climática

De acordo com o estudo, os sistemas de proteção contra cheias em cidades como Porto Alegre foram projetados entre as décadas de 1960 e 1980 e não suportaram o evento. Rupturas em comportas, refluxos em galerias, fragilidade de diques e projetos defasados explicam parte da tragédia. 

Estima-se que até 40% da população atingida estava em áreas teoricamente protegidas, o que agravou os impactos por conta de uma falsa sensação de segurança.

A ANA recomenda que o dimensionamento de obras futuras incorpore dados atualizados de eventos climáticos extremos e revise as técnicas estatísticas utilizadas, com aumento de 15% a 20% nas estimativas de vazão e precipitação.

Recomendações para prevenir novos desastres

Entre as medidas apontadas pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) para reduzir os impactos de eventos climáticos extremos como as enchentes de 2024, o estudo recomenda a revisão dos critérios de planejamento urbano e de ocupação do solo. A inadequação dessas normas contribuiu para a vulnerabilidade das áreas atingidas, inclusive em locais considerados protegidos por obras antigas de contenção.

O documento também propõe a adoção de sistemas híbridos de infraestrutura — combinando soluções tradicionais (como diques, canais e bombas) com estruturas baseadas na natureza, como áreas de vegetação para absorção de água e restauração de margens de rios. Outra medida considerada urgente é a implementação de estratégias de reassentamento seguro para famílias que vivem em regiões de alto risco, com acompanhamento social e acesso a políticas públicas.

A ANA sugere ainda a ampliação da rede de monitoramento hidrometeorológico, com cobertura mais abrangente e mecanismos de redundância para garantir a continuidade da coleta de dados mesmo em situações críticas. 

Por fim, o estudo defende a aproximação entre instituições públicas, centros de pesquisa e universidades, para garantir decisões mais qualificadas, baseadas em ciência, tanto no momento da emergência quanto no planejamento de longo prazo.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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