A publicação “As Enchentes no Rio Grande do Sul – Lições, Desafios e Caminhos para um Futuro Resiliente”, lançada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), concluiu que o desastre ocorrido em abril e maio de 2024 foi o maior da história do Rio Grande do Sul e um dos maiores já registrados no Brasil. Atingindo 478 municípios, a enchente afetou 2,4 milhões de pessoas, causou 183 mortes e provocou prejuízos econômicos bilionários.
A chuva intensa fez o lago Guaíba atingir 5,37 metros em Porto Alegre, superando em mais de 60 cm o recorde de 1941. Segundo o estudo, a duração, a intensidade e a abrangência das chuvas não possuem precedentes no histórico climático do país.
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Chuvas severas e enchentes devem se repetir com mais intensidade
Um dos principais alertas do levantamento é o aumento na frequência e na magnitude de enchentes extremas na região Sul. A publicação estima que desastres climáticos antes considerados raros, com ocorrência a cada 50 anos, podem passar a ocorrer a cada dez anos. Isso significa um crescimento de até cinco vezes na frequência desses desastres.
Além disso, as projeções indicam que a vazão dos rios pode aumentar em cerca de 20% nos próximos anos. Esse cenário é impulsionado pelas mudanças climáticas induzidas por atividades humanas, agravadas por fenômenos como o El Niño, que contribuiu para o volume de chuvas em 2024.
Infraestruturas antigas falharam diante da nova realidade climática
De acordo com o estudo, os sistemas de proteção contra cheias em cidades como Porto Alegre foram projetados entre as décadas de 1960 e 1980 e não suportaram o evento. Rupturas em comportas, refluxos em galerias, fragilidade de diques e projetos defasados explicam parte da tragédia.
Estima-se que até 40% da população atingida estava em áreas teoricamente protegidas, o que agravou os impactos por conta de uma falsa sensação de segurança.
A ANA recomenda que o dimensionamento de obras futuras incorpore dados atualizados de eventos climáticos extremos e revise as técnicas estatísticas utilizadas, com aumento de 15% a 20% nas estimativas de vazão e precipitação.
Recomendações para prevenir novos desastres
Entre as medidas apontadas pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) para reduzir os impactos de eventos climáticos extremos como as enchentes de 2024, o estudo recomenda a revisão dos critérios de planejamento urbano e de ocupação do solo. A inadequação dessas normas contribuiu para a vulnerabilidade das áreas atingidas, inclusive em locais considerados protegidos por obras antigas de contenção.
O documento também propõe a adoção de sistemas híbridos de infraestrutura — combinando soluções tradicionais (como diques, canais e bombas) com estruturas baseadas na natureza, como áreas de vegetação para absorção de água e restauração de margens de rios. Outra medida considerada urgente é a implementação de estratégias de reassentamento seguro para famílias que vivem em regiões de alto risco, com acompanhamento social e acesso a políticas públicas.
A ANA sugere ainda a ampliação da rede de monitoramento hidrometeorológico, com cobertura mais abrangente e mecanismos de redundância para garantir a continuidade da coleta de dados mesmo em situações críticas.
Por fim, o estudo defende a aproximação entre instituições públicas, centros de pesquisa e universidades, para garantir decisões mais qualificadas, baseadas em ciência, tanto no momento da emergência quanto no planejamento de longo prazo.