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Filme ‘Pixinguinha, um homem carinhoso’ fala de amor e tensões raciais

Longa da diretora Denise Saraceni, com Seu Jorge, Taís Araújo e Milton Gonçalves no elenco, revela a extraordinária vida do autor de 'Rosa' e 'Carinhoso'

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nadine Nascimento I Imagem: Divulgação/Paprica Fotografia

cena do filme Pixinguinha com o Seu Jorge

19 de novembro de 2021

“Quem tem problema com negro é branco, eu não tenho problema com branco”, diz o ator Seu Jorge, na pele do personagem Pixinguinha, ao explicar porque adotou uma criança branca. A frase curta, porém, com reflexões profundas sobre as nuances do racismo brasileiro é um dos diversos acertos do filme “Pixinguinha: um homem carinhoso”, dirigido pela Denise Saraceni e com Taís Araújo e Milton Gonçalves no elenco.

O filme mostra a complexidade e o talento de Pixinguinha com muita delicadeza, respeito e autenticidade. Quem viu o ‘Marighella’, de Wagner Moura, precisa assistir Pixinguinha para se deleitar ainda mais com o talento do Seu Jorge na personificação de figuras carismáticas.

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Ao longo da sua vida, de 1897 a 1973, Alfredo Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, neto de africana, foi fundamental para a formação da identidade musical brasileira com sambas, choros e valsas. O filme mostra a linda história de amor entre Pixinguinha e Betí (Taís Araújo), intercalando com as tensões raciais que ele enfrentou em sua trajetória.

“Pixinguinha parece ter assimilado durante a vida um jeito muito particular em lidar com a questão do racismo. Nasceu pouco tempo depois da libertação dos escravos, embora em sua família ninguém tenha sido escravizado. Cresceu em uma casa onde músicos negros e brancos conviviam e trocavam experiência. Correu muito da polícia nas ruas onde tocava com amigos, porque o pandeiro e o batuque eram proibidos”, compartilha a diretora Denise em entrevista à Alma Preta Jornalismo.

O filme faz referências a grandes nomes da música que conviveram com o fundador do conjunto Oito Batutas, que fez enorme sucesso em Paris, na França, influenciando e sendo influenciado por músicos de jazz. “Na casa da Tia Ciata ele tocava flauta no salão enquanto no quintal o ritmo dos orixás eram tocados”, comenta Denise.

Tia Ciata, Hilária Batista de Almeida, foi mãe de santo e figura fundamental para o surgimento do samba carioca. A versatilidade musical do Pixinguinha, muito bem registrada no longa, é impressionante, tanto que o Dia do Choro é comemorado em 23 de abril, data de nascimento do maestro.

A grandiosidade do seu talento teve o retorno financeiro merecido, porém, não foi duradouro. “O período em que ele trabalhou nas gravadoras e nos salões à noite, ele ganhava bem. O problema é que gastava muito, ajudando quem estava ferrado e bebendo muito. Depois, com as orquestras  ‘americanizando-se’ ou ‘branqueando-se’, ele perdeu espaço”, diz a diretora.

Um caso de racismo sofrido por Pixinguinha deu origem a um de seus sucessos. “Quando ele volta de Paris, é barrado na entrada principal do Copacabana Palace, por ser músico e preto. E diz ao porteiro, também preto, ‘só lamento’. Aí, ele fez logo depois uma das suas músicas mais lindas composições, ‘Lamento’, letrada anos depois por Vinícius de Moraes. Então, eu te digo que não existe Pixinguinha sem a lida cotidiana com o preconceito, mas como ele mesmo diz: seu tamanho, sua cor e seu talento o fizeram diferente”, explica Denise.

O ponto forte do filme é a delicadeza e a verdade ao apresentar o personagem protagonista negro, cuja vida é pouco conhecida. Neste sentido, o longa segue muitas das premissas do manifesto ‘Dogma Feijoada’, de 2000, sobre a cinema negro brasileiro, apresentado por realizadores negros, como o diretor Jefferson De.

“Não conhecia o ‘Dogma Feijoada,’ mas convivo com muitos artistas negros, poetas, atores, músicos. E, como uma profissional que conta histórias, sentia que tínhamos que descobrir um jeito de romper estereótipos em qualquer história. Fiquei muitíssimo feliz quando um desses amigos me abraçou ao terminar o filme e emocionado me falou ‘é assim que queremos ser vistos, como seres humanos'”, compartilha Denise.

O filme tem participações especiais de músicos da cena atual carioca como Maíra Freitas (filha do Matinho da Vila), Nilze Carvalho, Jorge Aragão e Pretinho da Serrinha, interpretando músicos e personagens da época do Pixinguinha.

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