Nesta sexta-feira (12), é celebrado o Dia Mundial do Hip-Hop, movimento cultural, social e político que surgiu nos guetos do Bronx, nos Estados Unidos, na década de 70. O movimento, junto com as suas manifestações culturais, se configura como um instrumento importante para os jovens negros e negras das periferias, denunciando injustiças sociais, racismo e preconceito através da cultura de rua, como a música rap, o breakdance, gratife entre outros. No mês que celebra a cultura hip-hop, Salvador será palco da inauguração de uma sede exclusiva para o fomento da cultura de rua: a Casa do Hip-Hop Bahia (@casadohiphopbahia). A inauguração, que aconteceria nesta sexta (12), foi adiada e uma nova data deve ser divulgada em breve.
A Casa do Hip-Hop fica localizada no Pelourinho, centro histórico da capital baiana, e vai funcionar como um polo sociocultural, de produção e formação para a juventude negra e periférica. Inicialmente, o espaço vai contar com rodas de conversa, amostras culturais e exibição de filmes, realizado em parceria com a Fundação Cultural da Bahia (Funceb), a Secretaria de Cultura do Estado (Secult) e a Diretoria de Audiovisual da Bahia (DIMAS). Em breve, a Casa também vai realizar atividades gratuitas de aceleração de carreira, empreendedorismo, oficinas, palestras, além de espaços multiusos, estúdio multimídia, lojas colaborativas e um memorial sobre a história do Hip-Hop na Bahia.
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Idealizado desde 2004, a ideia da Casa Hip-Hop Bahia surgiu através do coletivo Rede Aiyê Hip-Hop, antigo grupo que reunia artistas, ativistas e militantes do movimento Hip-Hop de Salvador e da cidade de Lauro de Freitas, região metropolitana da capital baiana. Mas foi só após 14 anos que o Governo da Bahia firmou um acordo com o coletivo Comunicação, Militância e Atitude Hip-Hop (CMA Hip-Hop), atual responsável pela administração da Casa. A inauguração da sede estava prevista para 2020, mas foi suspensa por causa da pandemia da covid-19.
Há quase 20 anos, DJ Branco integrava a Rede Ayiê Hip-Hop e foi um dos idealizadores do projeto. Considerado um dos nomes importantes no cenário do hip-hop baiano, o produtor cultural, comunicólogo e fundador do CMA Hip Hop enxerga a inauguração como o reconhecimento da cultura que revolucionou a luta da população periférica.
“É uma luta, um sonho, há quase 20 anos de militantes, ativistas e artistas da cultura e do movimento Hip-Hop baiano inaugurar essa Casa do Hip-Hop, que vai ser um polo de referência dessa cultura que vai trabalhar com arte-educação, tecnologia, empreendedorismo, tecnologia da informação e incubadora de processos criativos. Isso é um reconhecimento da cultura de rua que contribuiu para a luta pela garantia de direitos. A importância disso, para mim, é dizer: “Estamos vivos, nós existimos. Precisamos de mais respeito, precisamos que os nossos jovens pretos e pretas de periferia, que fazem arte 24 horas por dia, sejam respeitados e reconhecidos como é de direito”.
Para ele, o espaço também é uma forma de manifesto contra o racismo e genocídio da juventude negra, sobretudo em Salvador, considerada a cidade mais negra fora de África.
“A Casa do Hip Hop vai contribuir para quebra de preconceitos, de estereótipos que ainda sofre a cultura hip-hop. A Bahia é o estado que tem o maior número de população negra no Brasil. A cidade de Salvador é a segunda maior cidade do mundo fora de África com o maior contigente de população negra e nós negros e negras que ajudamos a construir essa cidade sofremos racismo 24 horas. Salvador é a cidade mais racista do mundo. Existe um mito de democracia racial no país que para a gente já caiu por terra. Essa democracia racial não existe. Existe um projeto estruturante, um projeto de genocídio que se instalou nesse país há mais de 500 anos, que viola os nossos direitos e o principal direito que é garantido na cons que é o direito a vida, nosso povo esta sendo exterminado por um estado brasileiro chamado estado genocida”, completa.
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Para a inauguração da Casa, está prevista apresentações de representantes do Hip-Hop de mais de 15 cidades da Bahia. A rapper e compositora Udi Santos, de 29 anos, é uma das atrações convidadas. Como mulher preta e de periferia, a artista diz que fazer parte da cena hip-hop representa ocupar e se apoderar de espaços que eram negados às mulheres.
“As mulheres sempre estiveram presente na história e construção da cultura hiphop, porém como vivemos em uma sociedade machista a maior parte dessas mulheres foram invisibilizadas e muitas nem chegavam para o movimento por conta dessas questões. Hoje em dia a quantidade de mulheres trabalhando em todos os elementos da cultura só vêm aumentando e vemos na rua trabalhos maravilhosos feitos por estas. Estamos ocupando nosso lugar de fala e mostrando do que somos capazes”. Com a inauguração, a rapper espera que o espaço venha colaborar para o fortalecimento dos artistas, principalmente das periferias. “Espero que a casa do hiphop receba apoio para realizar projetos sociais e assim poder alcançar artistas/jovens periféricos através de formação e produção dentro dos elementos da cultura. Uma casa é uma casa, precisamos preenchê-la.
Para as/os novas/os artistas do Hip-Hop e aqueles que já fazem parte da cena, Udi Santos deixa como recado uma de suas composições:
“Colhendo do solo de quem veio antes de mim, Eu vou arando o solo para menor que estão por vir, Fala pra tua filha que ela é linda preta sim, Ajeita essa coroa seu reinado é aqui”.