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‘Marighella’ estreia nos cinemas: ‘um filme sobre esperança’, diz Wagner Moura

O longa, que sofreu sucessivos adiamentos pela pandemia mas, principalmente, por conta de desentendimentos com a Ancine, é lançado neste dia 4 de novembro; a Alma Preta Jornalismo acompanhou a pré-estreia em São Paulo

Texto: Nadine Nascimento | Edição: Nataly Simões | Imagem: Patrick Silva/Alma Preta Jornalismo

Imagem mostra o elenco de Marighella e o diretor Wagner Moura na coletiva de imprensa em São Paulo.

4 de novembro de 2021

O filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura, enfim, estreia nos cinemas do Brasil neste 4 de novembro, data em que se completam 52 anos do assassinato de Carlos Marighella (1911-1969) pela Ditadura Militar brasileira, em uma emboscada na cidade de São Paulo. 

O longa sofreu sucessivos adiamentos pela pandemia mas, principalmente, por conta de desentendimentos com a Agência Nacional de Cinema (Ancine), que estariam relacionados a uma possível censura ao histórico do personagem retratado. 

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Apontado como o ‘inimigo número um’ da ditadura, Marighella articulou uma frente de resistência enquanto denunciava a tortura e censura do período. Baiano, neto de escravizados sudaneses – filho de Maria Rita, que nasceu no mês da abolição da escravidão no Brasil, em 1888 – foi professor, escritor e deputado estadual. 

O filme apresenta sua luta radical de combate armado como líder de um dos maiores movimentos de resistência, a Aliança Libertadora Nacional (ALN), na década de 1960. Ele morreu assassinado pelos policiais do DOPS.

Com filmagens na Bahia, em São Paulo e no Rio de Janeiro, o longa contou com pré-estreias em todas essas cidades. Em São Paulo, o pré-lançamento aconteceu no Cine Marquise, no dia 26 de outubro. A Alma Preta Jornalismo acompanhou o evento.

“É um filme duro, cru, mas que aponta para a esperança, para a passagem dessa semente plantada por Marighella, pela resistência dos Malês, Canudos, por todas as resistências populares do Brasil”, afirmou o diretor Wagner Moura. 

O longa foi inspirado no livro “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”, escrito pelo jornalista Mário Magalhães e lançado em 2012. Além de Seu Jorge na figura do guerrilheiro, o elenco conta com Bruno Gagliasso, que encarna o policial Lúcio, que o persegue. Fazem parte do elenco também Adriana Esteves, Humberto Carrão, Herson Capri e Maria Marighella, neta do guerrilheiro na vida real. 

Na coletiva em São Paulo, Seu Jorge disse que o filme o reconectou ao seu país, a ponto de ele repensar sua volta ao Brasil. O cantor e ator morava nos Estados Unidos desde 2011, e retornava nesse período apenas pontualmente para alguns compromissos. 

“No processo de trabalho com os meninos, uma das coisas que ficou marcado em mim é o quanto era importante para esse filme que eu me reconectasse com o Brasil de novo. Percebi àquela altura que já estava muito conectado com o mundo. E que para eu fazer esse personagem, viver essa pessoa, eu precisava me conectar com o Brasil e, automaticamente, me conectar com as causas do Brasil, que essencialmente são as minhas causas e sempre foram”, explicou o ator.

Um homem negro

A escolha de Seu Jorge, negro de pele retinta, para viver Marighella, negro de pele clara, foi alvo de ataques que acusavam a produção do filme de não ser fiel à realidade. O cantor Mano Brown, que tem um tom de pele mais próximo do do protagonista, foi a primeira opção do diretor Wagner Moura. 

“O Brown para mim representava muito do que o Marighella era: um poeta, lutador, um homem que não fazia concessões… enfim. E, falando de tom de pele, o Brown e o Marighella tinham o mesmo tom de pele, porque os dois são filhos de mulheres negras com homens brancos”, explicou o diretor para a Alma Preta Jornalismo.

Quando o Brown saiu do projeto, Moura só pensava que precisava substituí-lo por um outro homem negro. “Para mim, era muito simples: Brown, Jorge e Marighella são três homens negros. Quando vieram os ataques racistas à cor de pele de Jorge, eu falei ‘cara, eu acho que eu acertei’. Mesmo que eu não tivesse tanta consciência na época, eu acho que eu acertei quando  ‘empreteci’ Marighella a reafirmei sua negritude”, contou Moura.

Os avós de Marighella eram escravizados sudaneses e malês (do iorubá, imalê), pretos mulçumanos que, em seus países de origem, estavam muito acostumados às revoltas e às insurreições populares, além de terem a leitura e noções de matemática muito desenvolvidas. Este grupo, sobretudo na Bahia, foi um dos que mais se insubordinou contra a escravidão. A Revolta dos Malês é a maior de todas do Brasil.

“Desconectar essa herança de insubordinação à figura de Marighella parece um desserviço à figura dele. Eu fiz o caminho oposto da história toda do audiovisual brasileiro, que é o do embranquecimento dos personagens. Essa ‘síndrome de Escrava Isaura’ que o Brasil tem. Então, eu acho que eu terminei acertando meio que sem querer”, completou Moura. 

Marighella atual

A atriz Maria Marighella, neta do protagonista na vida real, vive sua avó na trama, Elza Sento Sé – com quem Marighella teve um relacionamento breve, do qual nasceu Carlinhos, seu único filho. Presente na coletiva, ela se emocionou por diversas vezes ao lembrar da produção da obra e do legado deixado por seu avô. 

“Homenageio aqui todos os artistas que fizeram mais que um filme e, sim, uma resistência em um dos momentos mais violentos do Brasil, que é esse momento entre 2013 e 2021. Por nove anos nós estamos imersos num processo de história de ódio e Marighella consegue dialogar, 50 anos depois da sua morte, com esse tempo: isso é surpreendente!”, compartilhou a atriz.

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