A consciência ambiental coletiva é o objeto de trabalho do artista plástico Rafael Rasmoke, 31 anos, que desenvolve um projeto autoral de grafites de árvores na paisagem cinza dos muros das cidades. Com sua arte, o grafiteiro busca incentivar o plantio de mudas frutíferas e nativas.
“O meu trabalho nasce na pesquisa sobre a falta de árvores nas periferias. As praças, as poucas que existem na quebrada, são mal conservadas. Nos bairros mais ricos, para cada quatro pessoas tem uma árvore, enquanto que na periferia é uma árvore para cada grupo de 40 ou 60 pessoas”, diz o artista, que cresceu no jardim Macedônia, na periferia da zona Sul de São Paulo.
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Além da evidente desproporção de distribuição de árvores nos centros urbanos, os painéis, grafites e quadros do Rafael Rasmoke alertam para o problema do aquecimento global, agravado pelo desmatamento na Amazônia e as queimadas no Pantanal.
O personagem-árvore criado por Rasmoke é parte do acervo de grafites de São Paulo e pode ser encontrado nos quatro cantos da cidade. O grafiteiro levou sua arte também para outros estados, como Amazonas, Pará, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
Quando Rasmoke tinha dois anos de idade, o pai dele começou a fazer a manutenção voluntária de uma praça do bairro do Butantã, com plantio de árvores, revitalização dos brinquedos, horta comunitária, arte e eventos para as crianças com foco na conscientização ambiental. “Essa ação que o meu pai faz todos os anos é uma influência fundamental no meu trabalho”, comenta o artista, que também fez grafites com temas ambientais no Uruguai e Argentina.
Na leitura artística que Rafael Rasmoke faz da luta pela sustentabilidade, há um destaque para o combate ao racismo ambiental e à perseguição das religiões de matriz africana. “Os orixás celebram o meio ambiente e a natureza para nos reconectar com a ancestralidade. Não existe um projeto real de política pública para a melhoria da qualidade de vida nas periferias onde se concentra a maior parte da população negra das cidades”, pontua Rasmoke.
Em abril de 2021, um projeto idealizado pela enfermeira Glaucia Mara Souza e outros membros da equipe de saúde do Hospital Universitário da USP, na zona oeste, junto com o artísta plástico, promoveu o plantio de uma muda de árvore em homenagem para cada vítima de Covid-19. O plantio contou com a participação de parentes das vítimas e da equipe de atendimento do hospital.
Em 2019, Rasmoke participou como voluntário de um projeto de plantio de 40 árvores nativas da Mata Atlântica, na cidade de Carapicuíba, na região metropolitana. Ao longo da carreira, ele já plantou mais de mil árvores e perdeu a conta de quantos grafites e quadros de árvores fez.
“Toda vez que eu deixo uma árvore na cidade, é um grito da natureza resistindo contra o cinza, o concreto, a poluição. É um alerta sobre o que realmente nos mantém vivos, as árvores”, afirma o grafiteiro.